sexta-feira, 29 de junho de 2012

O outro lado do apego...

Apesar de ser “gajo”, sou alguém que vive muito ligado aos sentimentos e a tudo o que de bom e de mau eles nos trazem.

Não sei se é defeito ou virtude, muitas pessoas dirão uma coisa, outras a outra, mas eu apego-me muito facilmente, seja a pessoas, a animais ou a simples coisas da vida.

Esta minha maneira de ser leva-me a algumas vezes a ter de lidar com a situação de desapego. Esta pode acontecer devido a vários factores, tal como mudanças de opinião, mudanças de situação da nossa vida, azares ou até mesmo devido à lei da vida, a que ninguém escapa, nem pessoas, nem animais.

Como é que eu lido com isto? Depende. O que sei com o que aprendi até hoje é que quanto mais custa, mais significado o sujeito do nosso apego teve para nós. Quando me custa, por vezes choro, por vezes isolo-me, por vezes deprimo, por vezes fico refletivo…nunca consegui foi ficar indiferente.

Já perdi familiares, já deixei de ter amigos, já tive relações que terminaram, já perdi animais que eram como se fossem família (ao A só lhe faltava falar) …umas situações custaram mais que outras, mas todas deixaram a sua marca. E que marca foi essa? Independentemente da forma como os deixei de ter, ficaram as lembranças de todos os momentos maravilhosos que me proporcionaram e que não foram poucos. Alguns além da lembrança, suscitam em mim uma saudade que me sufoca por vezes…uma saudade que com o passar dos anos vai doendo cada vez menos, mas que não passa. Quando assim é, sei que não perdi o que parecia perdido…estará sempre na minha memória e no meu coração.

Menina, sei que hoje não estás a passar um bom momento…preferia que não quisesses falar comigo por eu ser um chato de primeira, acredita que sou sincero ao dizê-lo, mas não posso fazer nada quanto a isso. És uma pessoa alegre e não gosto de te ver assim…quando te perguntar se estás bem quero voltar a ouvir um “eu estou sempre bem xD”.

Beijinho enorme CR…sei que é pouco, mas é com carinho.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Dia especial...

Ontem fiz anos…28 primaveras.

Não tenho medo da idade, de envelhecer. Às tantas por ser ainda um jovem, às tantas não.

Cada fase da nossa vida nos aporta coisas boas. Não sou das pessoas que ficam saudosas pelo tempo que passou. Penso que o que está para vir será melhor, mesmo que o caminho seja feito de mais e maiores obstáculos. Adorei ser criança, gostei de ser adolescente, encantei-me com os tempos universitários…todas estas fases proporcionaram-me bagagem para ser quem sou hoje, para ser como sou. Com tudo de bom e mau que me deram.

Hoje disfruto de outras coisas, com outro sentido de responsabilidade, mas não querendo perder algo que é o que nos dá juventude…vontade de viver, vontade de buscar a felicidade, vontade de conhecer coisas novas.

Desde que entrei para a universidade e ainda mais agora que estou a trabalhar em Espanha, passar o dia de anos com os meus, com a minha família, passou a ser um luxo, ou para não exagerar, algo mais raro e difícil de acontecer. Este seria mais um ano assim. Mas fiz os possíveis para ser diferente, mesmo que a custa de uma noite de trabalho mais difícil de aguentar.

Tive dois motivos para o fazer. A minha família paterna juntou-se para celebrar a comunhão da minha primita. Desse modo, tentei passar o dia com pessoas que me são muito queridas…os meus pais, meus padrinhos, primos, tios…afilhada. O último ano não foi muito fácil para a minha mãe. Felizmente parece ser uma situação ultrapassada, mas isso fez-me ter ainda mais vontade de passar estes dias com as pessoas que mais me querm, que apesar de serem dias normais, são especiais.

O outro motivo foi o pedido da princesinha do dia de ontem…”O Jorginho tem que vir!” Quem me conhece sabe bem que um pedido destes só seria rejeitado se fosse mesmo impossível.

Apesar de ter gostado sempre das minhas festas de anos, ontem foi diferente. Não fui para fazer a minha festa, mas acabei por ser surpreendido…acabei com a protagonista da festa sentada no meu colo a cantar-me os parabéns e a ajudar-me a apagar as velas. Há muito, mas mesmo tempo que não tinha a família assim reunida, em festa, sem zangas a pesarem no ambiente. Admito, tinha saudades.

Disfrutei de cada minuto. Com todos os defeitos que possa ter, tenho a melhor das famílias, quer paterna, quer materna.

Um aparte aqui…tenho as primas mais lindas do mundo. Por isso ando a correr atrás delas como se tivesse 8 e não 28 anos. E agora vem uma rodada de rapazes, já com o “G” e o “D”, esperando ansiosamente pelo “J” .

Por último, uma palavra para a minha bebé, a minha menina, que cada dia está cada vez mais uma mulher feita. É a menina dos meus olhos…há muitos anos. Podes ser quase uma mulher, mas para mim serás sempre a menina que embalei muitas vezes…ser teu padrinho foi o melhor que me aconteceu.

Também de recordar todas as pessoas que ao longo do dia me foram felicitando de várias maneiras. Telefonemas, sms, facebook…a todos agradeço. Algumas inesperadas e que me tocaram.

A todas as pessoas que fizeram valer a pena estes 28 anos, o meu muito obrigado. Espero continuar ao vosso lado muitos mais anos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O valor de um sorriso...

Sou enfermeiro quase há 4 anos, apesar de ter acabado o curso há 5. Digo isto, porque não foi estar na posse do cartão azul que me fez sentir enfermeiro.

Só me senti enfermeiro de verdade, depois de vestir o uniforme naquela manhã do dia 15 de julho de 2008, ao sentir o peso da responsabilidade de ter vidas humanas nas minhas mãos. Tremi, suei, desesperei, andei completamente perdido, não apenas por me iniciar na profissão, mas também por ser um país e um serviço desconhecidos, tal e qual como a língua.

Hoje, ando alegre a “passear” pelo serviço, sem qualquer tipo de ansiedade, consigo parar uns minutos para uma conversa coerente ou incoerente, consoante o interlocutor que tenho à minha frente, sem pensar que estou a atrasar o meu trabalho (se não saio as 8h saio ás 8.30h ou as 9h, não morro por isso…pode-se dizer que é uma hora em que faço voluntariado).

A maior parte dos meus doentes sofre de uma doença para a qual ainda não existe cura. Chama-se idade…ela acarreta consigo coisas como solidão, abandono familiar, incapacidades e degenerações físicas e mentais, angústias, medos…medo, muitas vezes medo que o fim esteja próximo.

Claro que há muitos idosos que chegam a idade avançada num estado que lhes permite manter uma autonomia muito boa, mas não é o caso dos meus “velhinhos”.

É incrível como às vezes um “Olá, como estás?”, que não se pode dizer que é dar atenção a alguém, é recebido como se fosse o melhor que a outra pessoa recebe em todo o dia.

Às vezes chateio-me com eles, às vezes tenho que ser algo mais “duro” com eles, sempre no sentido de tentar manter a sua independência ao máximo. A solidão é muitas vezes acompanhada por um falso mimo, que significa apenas uma coisa “Estou aqui, olha para mim, não te esqueças de mim!”

Durante os estágios da universidade, uma das críticas que sempre me fizeram foi de não me relacionar bem com os doentes, de ser muito calado. Admito que sim, que quando tinha um professor ou um enfermeiro orientador comigo ficava mais calado. Porquê? Talvez com medo de dizer algo que não devesse. Mas de certeza que essa avaliação que faziam de mim, não era fundamentada em nenhuma opinião dos doentes.

Eu lido todos os dias com pessoas doentes. Eu brinco e meto-me todos os dias com essas mesmas pessoas. Já me chamaram de palhaço…de parvo (espero que no bom sentido)…de imbecil (também espero que no bom sentido…se é que o pode ter)…mas podem-me chamar o que quiserem, que enquanto eu continuar a conseguir colocar no rosto dos meus doentes um sorriso sincero, um sorriso que só por si agradece qualquer coisa que eu lhes faça, seguirei a ser assim. Admito, na minha opinião, se fosse como sou em todos os estágios que fiz, de certeza absoluta que chumbava a todos. Ou pensam que se põe um doente a sorrir, a rir ou às gargalhadas com piadas secas ou conversas sobre o tempo?

O sorriso mais difícil de conseguir e que maior satisfação me dá, por exemplo, não é o de uma rapariga de quem eu possa gostar. Nenhum sorriso tem mais valor que o de uma pessoa que vive com dores, que vive desanimada, que vive os últimos dias da sua vida, que vive presa a uma cama ou a uma cadeira de rodas. São sorrisos que trazem alguma alegria a rostos tristes pelo peso do passar dos anos.

Claro que é preciso ter bom senso e nunca esquecer a velha máxima “mais vale cair em graça que ser engraçado”. Cada doente é único e cada um tem uma aceitação das brincadeiras diferente dos outros. A alguns podemos dizer uma piada mal chegam ao serviço, outros é preciso ir com calma. É preciso avaliar…é preciso adaptarmo-nos a cada um deles para conseguirmos usar da melhor maneira uma das melhores terapias que (re)conheço…o sentido de humor!