terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Natal diferente…

Amanhã (hoje) não vou estar com os meus. Não é que não goste, não é que não queira. Muito pelo contrário. Se há dia do ano em que estar com eles me dá uma enorme sensação de paz, é este. Por isso, trabalhar amanhã não significa apenas que vou dar o meu trabalho…vou dar muito mais que isso.
Não é a primeira vez nem será a última que passo esta data com os meus doentes. É a vida/profissão que escolhi. E sei que a minha presença neste dia, junto a pessoas em situações de fragilidade, tem outro valor.
Por isso amanhã vou trabalhar como vou todos os dias e sem tristeza alguma. Vou com um sorriso na cara, porque os meus doentes não merecem menos do que isso, mas com o pensamento na minha família.

Por isso desejo a toda a minha família e amigos um Santo e Feliz Natal…mas deixo uma palavra de apreço a todos os meus colegas que vão abdicar, nesta noite, do conforto dos seus lares, para o oferecer a quem mais precisa.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Vocês sabem…



Já passaram 10 anos desde a última vez que te vi. Lembro-me perfeitamente das tuas feições, dos teus gestos, de tudo aquilo que representavas para mim e para a família. Ao mesmo tempo tenho medo, medo porque já não sei se ainda reconheço o som da tua voz, aquele que ouvi durante 20 anos e que sempre foi uma fonte de paz e segurança. Por isso peço-te desculpa Avó.
Já te revi em algumas pessoas que estiveram ao meu cuidado. Acaba por ser uma sensação estranha, mas nas quais sorrio e penso “Olha, parece a minha Avó!”…mas não és, nem nunca vais ser. Merecias e mereces permanecer intacta no coração daqueles a quem deste tudo.
Daqui a 24h, faz também 3 anos em que estava a chegar a casa do trabalho e recebi uma daquelas chamadas que nunca queremos receber. Disseram-me que o meu Avô tinha ido ter contigo. Apesar do peso dos anos Avô, para mim sempre foste um poço de força., um exemplo de perseverança. E acredita, aquelas histórias que me contavas pormenorizadamente naquelas tardes de fim-de-semana, estão cá todas guardadas. Do Brasil à Alemanha, passando pela tua terra. Foste actor principal de uma história verídica.

Acho que vocês combinaram os dias de modo a que eu nunca me esquecesse de vocês. Não precisavam…vocês sabem que vos amo incondicionalmente!

domingo, 23 de novembro de 2014

Uma mesa de valor incalculável…

Há pequenas coisas que, por muito insignificantes que sejam, trazem-nos um pouco de felicidade. Coisas imateriais, que só vividas têm o seu valor.
Eu passei muitos momentos da minha infância na casa dos meus avós paternos. O contacto que um rapaz da cidade (apesar de pequena) tinha com o mundo rural. Sim, não era o meu mundo, mas era (é) a minha família. E quem me conhece sabe o que representam para mim os meus avós, os primos e os meus tios. Aprendi com isso que, independentemente do lugar, o importante são aqueles que nos rodeiam. E aquela casa sempre foi para mim a minha segunda casa…tinha lá a minha família.
Passei lá imensos natais, passagens de ano, fins-de-semana…momentos inesquecíveis. E a imagem que tenho sempre na cabeça é da família reunida à mesa de jantar. Com as pessoas sentadas sempre nos mesmos lugares (ou na mesma ordem), como que guardando o seu lugar no seio familiar.
Recordo-me bem também da comida…obrigatoriamente o frango de churrasco, de vez em quando um entrecosto ou um assado. Refeições que se prolongavam no tempo, pois as conversas quebravam sempre a velha máxima do “silêncio à mesa”.
Simplesmente, fui feliz naquele lugar.
Vai fazer no próximo mês três anos que o meu avô faleceu. E com ele morreu muito daquela casa. Incrível como uma pessoa conseguia preencher um espaço tão grande! E há três anos que eu não me sentava naquela mesa. Fui algumas vezes de passagem à casa, mas sentia sempre aquele vazio perturbador.
Vazio esse que senti dissipar-se, finalmente, este fim-de-semana. Voltei a sentar-me naquela mesa com os meus. Nos lugares de sempre, o frango de sempre, o vinho de sempre, as conversas de sempre. Já cá não estão os meus avós, mas a vida é assim mesmo. Ficam as inúmeras lembranças e a eterna saudade. E a melhor maneira de não deixarmos apagar a memória deles é dando vida à casa onde eles viveram…apenas espero que isso seja sempre possível.

Voltei a sentir aquele bem-estar da minha infância, como se aquela mesa fosse um porto de abrigo…voltei a ser feliz naquela casa.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Manipulação política…a verdade por detrás da mentira!

Hoje é dia de greve dos enfermeiros, dia a seguir a um apelo ridículo (para ser simpático) das entidades que gerem o SNS. Tais como ridículas são as tomadas de posição de alguns órgãos sociais, parecendo meras marionetas dum governo canalha (ou sistema político, porque os que para lá querem ir até se podem pôr do nosso lado…usando-nos como números e eu já estou farto de ser usado como estatística quando interessa).
Defendo que quem escreve algo deve estar minimamente por dentro do que escreve. Mesmo estando, pode escrever algo menos correcto. Não estando, de certeza que sai asneira. E mais grave, é quando se escreve/fala num órgão social.
Um editorial destes http://www.publico.pt/sociedade/noticia/uma-decisao-incompreensivel-1676195 deve ser uma vergonha para o órgão que o publica. Não entendo muito disto de artigos, mas um editorial imagino que seja escrito por alguém com peso no órgão. E este é um editorial encomendado, falso, calunioso, de alguém com a inteligência e corruptibilidade ao nível dos senhores políticos.
Este surto, tão bem manipulado pelo ministro, está localizado e com um risco de transmissibilidade reduzido (seria mais grave um surto de gripe).
A ocupação dos serviços, se aumentou devido a este surto, não aumentou de ontem para hoje. Já leva dias. Assim como acontecem outros surtos que passam despercebidos porque não há greves marcadas nessa altura. E, ou a memória me falha ou não me lembro de nenhum ministro, director de DGS ou órgão de comunicação social qualquer vir a público defender o reforço de recursos humanos dos serviços hospitalares nessas alturas…ou mesmo agora. Se já temos serviços no limiar dos cuidados mínimos no seu dia-a-dia, se há um surto destes, lógico que não deve haver capacidade de resposta para eles. Qual a lógica a seguir? Reforçar os serviços, contratando mais pessoal. Foi o que aconteceu? Deixo a resposta para a imaginação do cidadão comum…e para posterior reflexão.
Só se lembraram agora dos cuidados mínimos? Por falar nisso, eles significam que nenhum cidadão vai ficar sem tratamento que se avalie como emergente/urgente/essencial. E devido à subjectividade na definição de tais cuidados (dependem muito da avaliação pessoal de cada enfermeiro) arrisco-me a dizer que quase todos os cuidados são prestados…duvido é da sua qualidade. Ou seja, não vai morrer ninguém devido a falta de cuidados, pelo menos não vão morrer mais pessoas do que as que morrem nos outros dias devido à falta de capacidade de resposta.
A pergunta que as pessoas devem fazer a si mesmas, sem ler baboseiras encomendadas não sei por quem, é se estarão seguras quando recorrem ao SNS?
Apenas digo e acredito piamente, que da parte dos enfermeiros tudo é feito nesse sentido…mas continuamos a ter apenas duas mãos e não somos máquinas, embora às vezes possamos parecer e se exija isso de nós.
Para finalizar, vergonha devia ter o senhor que escreveu este editorial, contribuindo para a publicidade a uma mentira, apenas pelo simples necessidade de sensacionalismo. Muito devem estar eles necessitados de leitores neste jornal, mas creio que apenas ficam com os que não têm dois neurónios a funcionar. A crise chega a todos, mas enquanto uns têm que manter a qualidade do seu trabalho, pois vidas dependem dele, outros podem dar-se ao luxo de serem fracos, fraquinhos, fraquíssimos…que ninguém morre por isso.
A este ignorante, apenas lhe digo, sem nenhuma reserva, que se houvesse realmente uma situação de calamidade nacional, seriam os enfermeiros os primeiros, estando de turno ou não, a acudir no auxílio das pessoas. Porque temos brio, temos ética e sentimos o que fazemos…tudo o oposto a este senhor.

domingo, 9 de novembro de 2014

Karate vs Futebol…o que é melhor para a criança?


Em conversa com um grande amigo meu, ligado à área da saúde, especificamente no atendimento a crianças/adolescentes, surgiu como tema de conversa o Karate e o futebol. Ambos adoramos futebol (muitas vezes jogamos juntos, tivemos pequenas experiências em equipas locais, mais ele que eu, sendo ele um craque) e ambos tivemos um caminho comum no karate durante 8 anos, no fim dos quais ele acabou por abandonar (mostrando arrependimento) e eu seguir algo que mantenho até hoje.
A dada altura da conversa conta-me ele algo que lhe chegou aos ouvidos. Um treinador de futebol, de miúdos por volta dos 6 anos, questionado por uma mãe o porquê do filho não sair do banco, diz a seguinte pérola “Por 5 minutos se ganha, por cinco minutos se perde!”  Este senhor deveria repensar se está a lidar com a faixa etária correcta ou então rever os conceitos que regem o seu treino. Está em causa o desenvolvimento ou não de uma criança, a sua motivação e auto-estima. Como disse o meu amigo, é o pior que se pode fazer a uma criança.
Como ando a frequentar o curso de treinador de Karate, há coisas para as quais, apesar de já as saber, nem que de forma inconsciente, vou tendo mais sensibilidade. E depois do meu amigo me ter dito isto, cheguei à conclusão mais óbvia que se pode chegar.
No futebol existem captações no início da época, às quais acorrem milhares de crianças por este país fora. E a entrada na equipa dá-se sob a forma de selecção, onde se escolhem logo à partida aqueles que são mais inatos à prática da modalidade. Se não tem jeito ou não sabe chutar uma bola, não é seleccionado…ou é, na falta de melhor. Claro que há as escolinhas de futebol que não têm ligação directa a clubes, algo mais indicado para crianças, mas que poderão ver o seu propósito corrompido com a obsessão de ganhar jogos. Mas para concluir o pensamento do futebol, há a ideia (mesmo que não assumida), que se um miúdo não sabe o que é uma bola, não deve sequer pensar em praticá-lo.
Se no Karate imperasse a mesma ordem de pensamento, desculpem o termo corriqueiro, estávamos lixados! Quantos miúdos que nos chegam e não sabem o que é “uma bola”? A maioria. E nós acolhemos todos por igual. Estamos predispostos a ensinar a nossa arte a qualquer um, mesmo aos que se revelam mais inaptos, sempre na premissa que a evolução depende muito mais do treino e do empenho, que das habilidades inatas. Mas antes de ensinar o Karate, estamos dispostos a ensinar, se preciso for, a correr, saltar…mas principalmente, a ensinar valores que podem e devem ser aplicados no dia-a-dia. Quer continuem ou não no Karate (um exemplo da teoria que se abordou no curso, que já sabíamos, mas tomamos ainda mais consciência).
Claro que há crianças com uma evolução mais rápida e outras mais lentas. Mas nenhuma tem menos importância para quem dá o treino. Dou o meu exemplo, pratico esta arte há 24 anos e pelo caminho vi desistir muitos colegas com maiores apetências físicas que eu para o Karate. E quem me treinou, a pessoa a quem mais devo nesta minha segunda família, nunca me pôs de lado em algum momento. Nem ele, nem as várias pessoas que me foram treinando desde os meus 6 anos. E daqui a 24 anos, se nada me acontecer, espero e vejo-me a treinar activamente (não apenas a dar treinos), algo difícil de conseguir noutras modalidades.

Chega-se à pergunta, que é melhor para a criança? Depende muito do treinador, mas dados os modelos actuais, sem dúvida alguma o Karate!

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Nem sempre é fácil...

Chego a casa cansado, exausto para ser mais preciso. Sento-me no sofá na indecisão de me deitar de imediato ou não. Talvez não, já me conheço há tempo suficiente para saber que quanto mais o corpo pede descanso, pior durmo. Estranha incongruência esta.
E não é só o corpo. A cabeça, finalmente a poder descansar uns minutos, faz a revisão mental do que fiz durante a noite e sei que também não me vai deixar descansar.
Foi daqueles turnos em que se entra em piloto automático, num modo de fazer as coisas “sem pensar”. Como acontece, às vezes, quando conduzimos e chegamos ao destino sem darmos conta do caminho percorrido.
Depois, há situações em que fazemos tudo certinho e a coisa não corre bem, o que me leva a perguntar “Mas que fazemos nós aqui?” Simples, acho. Abrimos sempre uma janela de esperança para que o que correu mal, pudesse ter corrido melhor. Não aconteceu desta vez. Mas já aconteceu e vai voltar a acontecer. Como vai voltar a correr mal.
Por isso os turnos que acabam, após reflexão, têm que ir para o baú do passado, para poder prosseguir o trabalho no presente.
Apesar de ainda ser jovem no que faço, aprendi a controlar aquele desespero (não sei se será a palavra adequada) que situações inesperadas provocam. Respiro fundo, organizo e ordeno as prioridades e toca a dar o melhor de mim. O trabalho tem que ser feito. Sim ou sim.

Esta é a vida que eu escolhi, o caminho que aceitei…nem sempre fácil, mas nunca difícil.

domingo, 2 de novembro de 2014

Conversa de café…no serviço

Numa das várias conversas de café que tenho com os meus pacientes, estava a “T” a falar-me sobre a visita da sua filha. Dizia ela:
T - “A minha filha hoje esteve aqui!”
Eu – “Ai sim?”
T – “Sim…sabes, acho que se vai casar!” 
Eu – “Como sabes, foi ela que te disse?”
T – “Não, não disse, mas queria dizer qualquer coisa. Sabes, ela e o namorado compraram casa!”
Eu – “Humm…então a coisa deve estar mesmo para breve!”
T – “Eu acho que sim! E dizem que me levam depois para morar com eles! Mas eu prefiro a minha casa. Cada um ao seu!”
Eu – “Muito bem!”
T – “O namorado dela é bonito, mas a minha filha também o é! Sabes, sai ao pai!”
Eu – “E à mãe?”
T – “À mãe claro que sai, em certas partes do corpo!”

E ainda dizem que não dá para ter conversas com eles! Sabem-na toda!


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Comportamentos estúpidos

 O ser humano revela grande parte da sua estupidez ao ir contra o que a sua própria inteligência tem descoberto.
Uma coisa é fazermos algo que nos faz algum tipo de dano porque não o sabemos. Isso é por ignorância. Aceita-se e compreende-se. Agora, fazermos algo que sabemos que nos faz mal, isso não compreendo, apesar de ter de aceitar.
Porém, muitas vezes, quem não o aceita são as pessoas que passam um mau bocado devido aos seus comportamentos passados. Muitas vezes ouço dizer “Que mal fiz a Deus para merecer isto?” A Deus não sei, mas essas pessoas deviam ter pensado, quando mais novas, no mal que estavam a fazer a si mesmas.
Tocarei apenas em duas coisas que ocorrem muito na nossa sociedade, principalmente nos mais jovens, nos que estão com a informação toda disponível desde cedo…ou seja, com a faca e o queijo na mão em relação à sua saúde. São elas fumar e beber.
Acho que a minha geração já teve mais que informação sobre os malefícios do tabaco. As de agora que mais precisam de saber? E o que aconteceu com a minha e o que acontece com as mais novas? No meu tempo, na minha turma de 12º ano, seríamos uns 4 ou 5 a não fumar. “Não é vício, é da fase!”, dizia-se. Entro na universidade e no início do 1º ano fumavam uns 4 ou 5. No final desse mesmo ano, éramos uns 4 ou 5 a não fumar (poderei estar a exagerar…mas relevo que era um curso da área da saúde). Saio do trabalho de manhã cedo e vejo miúdos(as) entre os 11 e os 17 anos de cigarro na mão. Acreditem, mete-me muita confusão…tal como ver profissionais de saúde a fazê-lo.
É por isso que faço um apelo, principalmente aos jovens que conheço, não caiam na tentação. Serão mais inteligentes e superiores do que o estúpido que vos estender um cigarro.
Como informação em grande quantidade não chega, acho que, desde cedo, estas crianças deviam ter contacto com a realidade…de quem foi novo como eles, foi estúpido como eles e que agora, ainda sendo novos, reclamam com Deus a má sorte que tiveram. Ver o que sofrem, ver o que é viver com dor, com falta de ar…sem esperança. Seria algo cruel? Não tanto como ao que se estão a sujeitar.
Com o álcool passa algo semelhante. Eu bebo, quando o Papa faz anos, mas bebo. Gosto de um bom vinho a acompanhar uma boa comida. Mas às tantas passo um mês sem tocar numa gota de vinho. Não consigo perceber quando vejo uma pessoa ficar stressada ou incomodada por não haver vinho a acompanhar uma refeição. Não será isso já indício de algo?
Porém, o que vemos nos jovens é um consumo descontrolado de álcool, cada vez numa idade mais precoce. Estes jovens, que se emborracham desde os 12, 13 ou 14 anos, dificilmente vão conseguir parar de o fazer. E sugiro nestes casos o mesmo que sugeri anteriormente. Ver pessoas que, por culpa própria, sofrem devido a beberem em excesso. E no caso das bebidas, temos a agravante das sequelas de acidentes de carros…que não acontecem só aos outros.
Há tantos outros comportamentos que se enquadram na estupidez humana, mas destaquei estes dois. Podia ter falado na alimentação, talvez onde toda a gente mais comete erros, mas aqui há algo que torna mais difícil não os cometer. A indústria alimentar tem tanto peso que há demasiada informação a variar consoante os interesses instaurados. O que hoje nos faz mal, amanhã já não faz, ou vice-versa.

Com tudo o que escrevi, não estou a chamar estúpido a ninguém…mas sim aos comportamentos que, no fundo, todos temos ou tivemos alguma vez na vida.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Più Bella Cosa...

Ainda me recordo como se fosse hoje…as primeiras férias que passamos juntos, estavas tu ainda na barriga da tua mãe. As primeiras férias também no Algarve, se não me engano. Pode dizer-se que é exagero, mas não andarei muito longe da verdade se disser que comecei a gostar de ti já nesse momento. Já lá vão 20 anos e uns meses.
Uns meses depois nasceste, ainda sem eu saber o papel privilegiado que ia ter na tua vida. Dizem que todos os bebés são lindos…mas tu foste a mais linda que eu vi até hoje.
Vi-te crescer, começar a andar, a falar…a chamar-me padrinho, algo tão caricato em alguém novo como eu…mas não imaginas o quanto gostava disso. De bebé fizeste-te menina e de menina já te fizeste mulher. O tempo passa, tu cada vez mais bela, eu cada vez mais velho…mas cada vez mais orgulhoso de ti.
Por muitos anos que passem, mesmo um dia quando tiveres filhos, serás para mim essa menina que está no meu colo, essa pequena Princesa. E estarei sempre aqui para ti.
Para terminar, o que se deseja sempre neste dia. Que tenhas um feliz aniversário e, acima de tudo, que sejas feliz todos os dias da tua vida.

Um beijinho (com saudade) do Padrinho (Observação: Karateca, com licença de uso e porte de arma, exímio atirador do exército e expert dos serviços secretos em tortura…apenas como observação)

domingo, 12 de outubro de 2014

A dicotomia do corpo humano



O ciclo vital do homem segue uma linha que, normalmente, se inicia no nascimento do novo ser e termina com a morte deste, na velhice. Isto seria o “normal”, mas como o comum dos mortais sabe, nem sempre decorre desta maneira.
Muitas vezes, em pleno esplendor físico, sucedem situações que nos revelam o quão frágil é o ser humano. Morte súbita, acidentes, tumores, doenças degenerativas, entre tantas outras coisas, fazem com que de estarmos bem, passamos a estar mal ou a nem sequer estar.
Se há coisa que sei que faz parte da vida, mas que me custa imenso a compreender, é a morte de uma criança ou de um jovem. Não tem sentido que, na fase mais forte da vida, mesmo em pessoas não tão jovens, o nosso corpo ceda, quebre e morra. Esta é, a meu ver, a grande fragilidade da máquina que o nosso corpo é.
Pelo contrário, temos situações que ocorrem quando já passou o tempo da máxima (ou sequer da) robustez física do nosso corpo, mas que este apresenta uma resistência de maratonista, aguenta sempre mais um bocadinho. Como enfermeiro de um Hospital de Larga Estância foram já muitos os casos em que vi o fechar do ciclo vital das pessoas. Isso não me incomoda, permitir uma morte digna, a meu ver, é tão importante como salvar uma vida. Principalmente quando a vida já não pode ser salva (por isso não entendo os casos em que se rejubila por um salvamento, quando o que se salva é um corpo sem vida…mas isso seria tema para outra discussão).
Porém, admito que há algo que ainda me impressiona, que é a capacidade do corpo resistir, mesmo quando a pessoa já desistiu há muito. Alguns casos desses, simplesmente com o acamar de um corpo e o apagar gradual da pessoa, chegando a um ponto que não sabemos se aqueles olhos abertos nos querem dizer algo (e o quê) ou se são, simplesmente, o reflexo de um corpo vazio. Se a “alma” está ou não está presente. O que sei é que o corpo está, sofrendo lesões e deformações cada vez mais difíceis de curar e corrigir. Esperando que uma infecção ganhe a essa resistência ou que o corpo se apague de vez e permita o fechar do ciclo. No entretanto, passam meses e anos em que o corpo se torna uma prisão.
Há outros casos, por exemplo, de pessoas com cancro, que a resistência não se dá durante tanto tempo, mas que se prolonga o suficiente para permitir a deformação corporal. Casos em que os doentes estão conscientes. Casos em que muitas vezes a dor maior, que nenhum medicamento pode tirar, é a de ter consciência do que se está a passar. Sou e serei sempre a favor de cuidados paliativos, muitas vezes confundidos erroneamente com eutanásia. Quanto a esta, não me merece qualquer tipo de comentários, nem a favor nem contra. É proibida, logo está fora do meu leque de cuidados a prestar.
Ressalvo que todos os casos merecem ou deviam merecer o cuidado e atenção máximos dos profissionais de saúde. Por exemplo, ensinaram-me na universidade a falar para os doentes, mesmo que estivessem num estado comatoso. Não o aprendi a fazer lá, foi algo que fui aprendendo a fazer desde que comecei o meu caminho diário como enfermeiro.

É esta ambivalência o aspecto com o qual mais me custa lidar no meu dia-a-dia profissional. Sermos frágeis quando devíamos ser fortes, e fortes quando devíamos ser frágeis.

sábado, 11 de outubro de 2014

Conversas nocturnas...

Numa conversa casual com uma paciente por volta das 24h...

"M" - Que preferias agora, estar a trabalhar ou na cama?"
Eu - Preferir preferir, preferia estar na cama!"
"M" - Sozinho ou acompanhado?

Nestas alturas fico sem saber se a vergonha nunca existiu ou se se perdeu com o passar dos anos!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Contratação de 1000 novos enfermeiros…ser ou não ser, eis a questão!

Segundo avançam as entidades responsáveis, o SNS vai admitir até ao fim do ano 1000 (algumas notícias referem “mais de”) novos enfermeiros, levando ao rejúbilo da Ordem como sendo uma conquista conseguida com as várias pressões que têm sido feitas. O contentamento dos profissionais já é mais moderado, havendo quem siga a achar que são migalhas e outros a achar que é melhor que nada.
Eu com os concursos já sou desconfiado há muito e se para uns esta vaga de concursos tem a ver com a pressão feita, a mim cheira-me que tem mais a ver com o aproximar de um certo evento. Mas isso sou eu e as minhas teorias da conspiração.
A notícia é assim anunciada:
A primeira ideia que dá, é que do dia da notícia até ao fim do ano vão contratar 1000 enfermeiros. Quem sabe como as coisas funcionam (em modo de arrasto), em 3 meses será algo impossível. Ou de repente os serviços tornaram-se ágeis como o Homem-Aranha!
Mas lendo um pouco a notícia, vemos que afinal os 1000 a entrar refere-se à totalidade dos que já foram contratados desde o início do ano e dos que ainda serão. Há aqui uma ambiguidade propositada em quem lança a notícia. Fazer crer numa coisa, sem nunca afirmarem que o vão fazer. Acalma os ânimos de quem lê apenas os títulos ou de quem não lê o que lá está! Depois a culpa é das interpretações. Ou seja, até ao final do ano vão contratar 334 enfermeiros (irão?), não chegando aos 1000 (ou mais de) anunciados com pompa e circunstância.

Percebem agora porque isto me cheira a campanha? Não sei se só do governo ou de outras entidades cujo nome deixo à vossa imaginação!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ai ai, senhores Enfermeiros...

Há uns anos, tipo uns 6 anos, abriu um concurso de enfermagem para a Madeira. Concorri, como o fiz a tudo que era concurso nessa altura.
Aconteceu que fui excluído e, como tal, liguei para o Hospital a perguntar o motivo. A menina diz-me amavelmente “Você não enviou o certificado de habilitações!” Fiquei surpreso, porque a todos eles enviava o certificado de Licenciado em Enfermagem. Diz-me a menina, mais uma vez de forma amável, “Não, o senhor não enviou o certificado de habilitações literárias, o de 12º ano!” Mais perplexo fiquei e informei a menina, que tendo eu concluído o ensino superior, o meu certificado seria o de final de curso ao que diz ela com enorme sapiência “Veja, o meu certificado de habilitações literárias é o de 12º ano!” Com toda a paciência do mundo e vendo que a coisa não ia a lado nenhum, disse à menina que não tinha culpa que ela só tivesse o 12º ano e despedi-me.
Dado o absurdo da situação, liguei para a Ordem para me informar sobre o que se poderia fazer. Desta vez, não tão surpreendido, ouvi um “A Ordem não se intromete nos concursos dos hospitais, tem que resolver a situação com o Hospital em causa.”
O pior de tudo isto, é haver colegas que enviaram o certificado de 12º ano, como sendo o de habilitações literárias. Depois são os primeiros a exigir que os tratem como licenciados. Mas às tantas sou eu que estou errado. Apesar de continuar a achar que, apesar de haver cada vez mais licenciados, ainda existe uma grande taxa de analfabetismo intelectual.
Vim a saber que em alguns (não sei se em todos) dos recentes concursos têm pedido diretamente o certificado de 12º ano. Não percebo a lógica. Somos licenciados, logicamente temos o 12º ano feito. Ou será que querem prevenir certos casos de possíveis equivalências? Tipo, costureiras com prática com agulhas e em coser ou mães habituada a trocar fraldas aos filhos!

Pode parecer um aspecto insignificante, mas será que o é, quando somos os primeiros, de forma consentida e até conivente, a rebaixar-nos? Quando são tantos “cães” a um osso, se for preciso até se vende a alma ao Diabo.

domingo, 14 de setembro de 2014

Dia com os meus…

Ontem foi dia de oficializar algo que já tinha assumido há mais de um ano. Hoje em dia diz-se que um papel (casamento) não altera o estado de uma relação (é discutível) e isso é algo que não se aplica apenas com o casamento.
Desde que recebi o convite para ser padrinho do “J”, e o aceitei, que assumi imediatamente esse papel…mesmo sem se realizar o baptizado. Entendo que a nível religioso as cerimónias tenham o seu peso, mas o ser padrinho, em tudo o que a palavra quer dizer, tem um alcance muito além do papel religioso.
O que prometo é que farei de tudo, auxiliando o papel dos pais, para que o meu pequeno afilhado se torne uma pessoa de bem, formado, educado e com respeito pelos demais. Tal como o fiz e faço sempre que ela precisar, com a minha já crescida afilhada. Tive com ela uma relação especial de padrinho e afilhada, uma vez que distámos apenas 10 anos um do outro. Algo pouco normal de acontecer e eu só tenho a agradecer o ter-me sido dada essa possibilidade.
Ontem foi então o dia do baptizado, o que significa que foi dia de estar com a família. Este tipo de festas é, hoje em dia, a melhor maneira de estar com aquelas pessoas que cada vez vemos menos, por circunstâncias normais da vida. Que são aquelas pessoas com quem mais gosto de estar. E creio que sou um sortudo pelo que vou ouvindo e vendo por aí. Seja da parte materna, seja paterna, para mim são todos a minha família. Com todos me sinto em casa, de todos tenho saudades.
Tendo trabalhado toda a noite, cheguei ao fim do dia de ontem “estourado”! Os pequenos parecem movidos a energia solar, não param enquanto não se põe o sol. Mas eu gosto disso. Correr atrás deles e com eles, entrar nos jogos que eles inventam a toda a hora, desfrutar deste tempo tão especial da fase da vida e que passa a voar. Por isso, cansado me deitei, mas com a alma mais leve.
Mesmo que não o seja, a todos digo um sincero “Até breve!”

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

"J", 2 anos, a espalhar o terror!

Hoje é um dia marcante para a História mundial, foi há 13 anos o acontecimento mais dantesco que assisti até hoje. Desde esse dia o mundo nunca mais foi o mesmo.
Porém, a vida segue como nos mostra o desenrolar da história. Ficam marcas, mas o mundo não para. Como não parou com as atrocidades de Hitler, nem com as bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki.
Com o desenrolar dos anos, novos acontecimentos, de preferência positivos, vão relegando as catástrofes históricas, não direi para o esquecimento, mas um segundo plano, ou melhor dizendo, estancando-as no seu lugar histórico.
Por isso, de há dois anos para cá, o 11 de Setembro, para mim, é acima de tudo o dia em que nasceu o meu pequeno afilhado. O tempo passa e de bebé de colo já está feito um traquinas que ninguém o segura. Aquele sorriso, que ainda não sei se é de timidez, de traquinice ou um pouco das duas, contagia qualquer um.

“J”, que tenhas um dia em grande, um pouco mais que os restantes dias. Sábado fazemos a festa! A prenda que me pediste é que me apanhou desprevenido, mas a ver se se arranja alguma coisa! Um beijinho do padrinho

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Duas senhoras que tudo sabem...

Vi hoje um vídeo partilhado no facebook, com 40 segundos, do programa da TVI “Você na TV”, presumo que da manhã do dia de hoje.
Se não me engano, falam a apresentadora (?) Cristina Ferreira e a actriz São José Correia (?). Sei que em televisão vale tudo e não ter dois neurónios a funcionar não é critério de exclusão.
Diz a actriz, falando da sua personagem e com toda a sapiência do mundo, que é uma enfermeira frustrada porque sempre quis ser médica. Até aqui, nada anormal, uma vez que há realmente um(a) ou outro(a) colega que se enquadram nesse perfil. O pior foi quando a pseudo-apresentadora diz “o que acontece com muitos enfermeiros”, ao que a actriz responde “o que acontece com muitos enfermeiros e que depois dá um comportamento negligente…apesar de ela ser eficiente profissionalmente”. Nota-se afinal que a actriz generaliza a sua personagem a muitos enfermeiros, apesar de mostrar certa incongruência, são negligentes, mas eficientes no trabalho? Minha senhora, decida-se, às tantas está habituada a ter as suas falas escritas por outros, que quando tem que dizer algo da sua cabeça, como só tem o Teco e não tem o Tico, o Teco fica a pensar sozinho e não sabe o que diz.
Quanto a Cristina Ferreira, personagem televisiva que conheço por ser das mais espalhafatosas e esganiçadas, deveria saber que uma apresentadora deve ter acima de tudo, bom senso. Isto porquê? Senão faz a mais pequena ideia do que está a falar devia abster-se de abrir a boca, porque sai asneira! Ainda mais quando fala de toda uma classe profissional. Imaginem o que seria eu ir para a televisão, só porque é “mito”, dizer que acontece com muitas apresentadoras e actrizes o facto de elas se deitarem com os chefes para conseguirem os seus programas e os seus papéis? Eu não acredito que pessoas como a Catarina Furtado, a Sílvia Alberto, a Tânia Ribas de Oliveira, a Sónia Araújo entre outras o tivessem que fazer.
Não vou agora entrar em detalhes, porque explicar algo a estas duas senhoras parece-me complicado. Admito, isso sim, que muitos de nós quando foram para Enfermagem não faziam a mínima ideia para o que iam, talvez mesmo a maioria. Mas isso não quer dizer que quisessem ser outra coisa.

Não sei se em Portugal temos os programas que temos pelas pessoas que somos, ou se somos as pessoas que somos pelos programas que vemos. Às tantas um pouco das duas.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Summer Camp

Depois de tanto que já foi dito, às tantas pouco ou nada há a acrescentar! Pela segunda vez marquei presença no Summer Camp do NKSL, mais uma vez com grandes momentos vividos.
Reforçam-se amizades, fazem-se novas amizades e conhece-se melhor outras pessoas. Algo tão importante como o treinar Karate. Aliás, haverá melhor maneira de começar a época?
Dou os meus parabéns a todo o grupo NKSL pela excelente organização, nada fácil de conseguir. Mobilizar instrutores, praticantes e familiares é meritório.
Não gosto de individualizar, mas não poderia deixar de dar uma palavra ao meu grande amigo Hugo Pedro (engraçada a ideia super errada que tinha dele). Está a realizar um trabalho digno de registo, de qualidade e isso tem-se visto no crescimento do NKSL. Não se deverá certamente só a ele, mas foi com ele que tudo começou e isso é o mais difícil. Seja dentro ou fora do tatami, como amigos ou adversários, terá sempre o meu respeito e admiração. E é treinando e competindo com os melhores que se evolui! A ti, um forte abraço.

Não me alongando mais, apenas reitero a minha vontade de marcar presença nas próximas edições. Saudações fafenses!


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Robin Williams

Sei que já passaram uns dias, mas não podia deixar de escrever umas singelas palavras àquele que, para mim, é um dos melhores actores da meca do cinema.
Estava eu de férias, meio alheado do mundo (logo sem internet e pouca televisão), quando leio um título na última página do jornal Abola sobre o fanatismo de Robin Williams em relação ao Tour de France. Vou a ler a notícia e apenas nas últimas linhas percebo que algo tinha passado. O pior, como constatei depois.
Fui assomado por um sentimento de tristeza. Reparei que, sem eu saber, era um fã deste enorme actor. Comecei a conhecê-lo com os filmes Hook e Jumanji, na minha infância. Só ele para encarnar a jovialidade do Peter Pan num corpo adulto. Mas não foi com estes filmes que fiquei fã de um artista capaz de passar da comédia ao drama (ou ao contrário) de modo tão versátil (ah, como detestei a personagem dele no filme August Rush!).
 Good Morning Vietnam, Good Will Hunting (mais conhecido como O Bom Rebelde) e um surpreendente Awakenings elevaram-no ao topo dos meus actores de eleição. Como todos os actores, conta com alguns trabalhos menos conseguidos, mas isso em nada o diminui.
Porém, o filme que mais gostei de ver foi o Dead Poets Society, em português Clube dos Poetas Mortos. Curiosamente, tive este filme gravado muitos anos em VHS (cortesia do meu pai) e não o via porque pensava que era um filme de terror, género que não gostava muito quando criança. Acho que o vi com a idade certa, com a maturidade necessária para apreciar como deve ser esta obra cinematográfica.
Um grande actor como ele foi não merecia este fim inesperado. Mas é a prova cabal que as estrelas que adulamos são pessoas de carne e osso como nós. Contudo, acredito que o seu nome será eternizado cada vez que um dos seus filmes passar, cada vez que ele provocar um (sor)riso ou de cada vez que nos emocionar.

Obrigado Robin, por tudo!

domingo, 6 de julho de 2014

Testamento Vital, mais vale tarde que nunca!

Desde o dia 1 de Julho que está disponível, no site da ARS, o formulário do Testamento Vital, apesar de ele já poder ser feito há sensivelmente um ano.
Este testamento é algo simples e que visa, unicamente (na minha opinião), que as pessoas tenham voz sobre o que querem, numa altura em que ainda a podem pronunciar.
Quantas vezes ouço “Se fosse eu, preferia morrer do que ficar assim?” ou “Morrer era um favor que Deus lhe fazia, está a sofrer tanto!” Pois bem, está na hora das pessoas, que realmente pensam assim, tomarem a rédea sobre o que querem que lhes façam, ou não, caso se vejam em situações de doenças em estado terminal ou doenças do foro neurológico graves.
A medicina está vocacionada, e bem, para salvar vidas humanas até à última réstia de esperança. O problema advém, muitas vezes, do produto dessa salvação. Muitas vezes salva-se um corpo, mas não se salva a vida (peço desculpa pela crueldade do pensamento). E em todas estas situações, nas que não há nenhuma réstia de recuperação, acontece a normal deterioração (que mesmo com todos os cuidados é inevitável) de um corpo inanimado, em que apenas os órgãos sobrevivem. E essa deterioração é acompanhada de processos dolorosos, infeções, de sofrimento etc. E mesmo acontecendo isto, procura-se tratar as pessoas até que uma infeção mais grave ou alguma falha orgânica não o permita. Atenção, falo em tratar, pois o cuidar tem que estar sempre presente até ao fim da vida, com ou sem testamento vital.
Como também acontece em doenças terminais, em que as pessoas são mantidas de forma artificial, com técnicas invasivas (e porque não dizê-lo, dolorosas), muitas vezes atrasando o resultado final, mas não permitindo qualquer aumento da qualidade de vida.
Por isso acho o testamento vital é algo do género de “mais vale tarde que nunca”. Finalmente as pessoas têm a oportunidade de antecipar-se e poderem ter mão no que querem ou não. E juntando a isso, alivia-se os familiares de terem que decidir algo por nós, que muitas das vezes vai em contra do que a pessoa doente quer (ou quereria).
Contudo, já li algumas barbaridades, fruto, muito em parte, da ignorância das pessoas….outras da estupidez.
Há quem diga que não confia nos médicos (“há cada médico aí!”) que vão ajuizar as possíveis situações (falamos sempre de hipóteses), que podem aproveitar-se do facto de as pessoas terem elaborado e assinado este documento para deixá-las morrer, mesmo que a situação não o justifique. No fundo, uma maneira simpática de dizer, para as matar. Que por esquemas e dinheiro serão capazes disso. Que pela crise, quantos mais morrerem melhor e se consentirem “porreiro pá!”. Como profissional de saúde, mesmo sabendo que há bons e maus médicos, mais sérios e menos sérios, não me passa pela cabeça que uma coisa destas possa acontecer e sinto-me ofendido por ouvir dizer algo assim. Não confiam neles para isto e confiam para as operarem? Para as diagnosticarem e prescreverem medicação? Coerência por favor. Não é por um professor ser pedófilo que deixamos de acreditar nos docentes, não é por um condutor de autocarro ser alcoólico que deixamos de andar de autocarro, não é por um maquinista ser responsável pelas mortes de dezenas, que deixamos de andar de comboio, e podia continuar com isto.
Outra aberração, é que isto é uma abertura para a eutanásia ou que isto é a eutanásia. Só pode dizer isto, alguém com desconhecimento, ou com uma grande confusão, de conceitos. Ninguém vai dar o que seja para que um doente morra. Até hoje, quando se seda um doente (em estado terminal, por exemplo), não se dá uma dose para matar (isso é nas execuções na América). Usa-se a dose necessária para o doente ficar sedado e tranquilo. Se a sedação pode diminuir o tempo de vida? Pode e diminui. Mas a pessoa tanto pode aguentar um dia, uma semana ou um mês. Não se dá uma dose para que a pessoa morra, de forma calculada, daí a uns minutos ou horas. Isso é crime. Não abordarei aqui a questão da eutanásia (a meu ver tema pertinente).
Eu, que vejo casos como os que acima referi todos os dias, digo “Eu não quero isso para mim!” Não estou a dizer que não o quero para os meus doentes ou para as outras pessoas. Não sou Deus ou quem quer que seja para o dizer, muito menos para o decidir. Só faz o testamento vital quem quer e quem o faça não vai interferir na vida de ninguém por o fazer. Por isso, quem o quer saúda que se possa fazer, quem não quer que se limite a abster-se de criticar quem o faz e tentando impor o seu desejo aos demais.

Pensar e decidir, quando quem sofre são os outros (e dos outros) é a coisa mais fácil que há.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

A culpa? Não é do outro, é nossa!


Assistimos, cada vez mais, a uma constante supressão de postos de trabalho em funções em que é o próprio cliente a substituir o trabalhador suprimido! E custa-me muito a entender isto.
Se no emprego nos metem mais trabalho em cima, reclamamos aos sete ventos, mesmo que estejamos a ser pagos para isso. Nestes casos, que somos clientes e pagamos, trabalhamos e nem reclamamos. E alguns ainda acreditam na lenga lenga do “fica mais barato!”
Apenas abordarei três casos, mas haverá mais certamente. Caixas de supermercados, postos de gasolina e portagens.
Recentemente há hipermercados que estão a substituir os empregados das caixas…não por máquinas, mas pelos clientes em si. As máquinas que nos parecem novas e diferentes, não são mais que as que havia, mas agora viradas para o cliente, para que este possa fazer todo o trabalho que antes era feito por um empregado. É um processo que não agiliza em nada a vida ao cliente, nem baixa os preços dos produtos comprados. Apenas busca o lucro dos patrões. O cliente regista, efectua o pagamento, e coloca ele mesmo as coisas nos sacos. Genial!
Outro caso já não tão recente, é os postos de gasolina que não têm quem abasteça o carro dos clientes. Estes já pagam um balúrdio pelo produto e ainda são eles que fazem o trabalho. Poder-se-ia dizer que só assim é possível ter as gasolineiras low cost, mas não podemos. Isto é prática não apenas nas de baixo custo. Como se justifica isto nas áreas de serviço, onde o produto é ainda mais caro? Mais uma vez, um processo em que nada agiliza a vida ao cliente (este tem que sair do carro, abastecer, ir pagar) nem baixa o preço final do produto. Ou seja, lucro para os patrões!
Terceiro e último caso, as portagens…e a supressão dos portageiros. Há uns anos assistimos à criação da via verde. Eu em contra não tenho nada, é um processo que visa facilitar a vida do cliente, não trazendo mais custos a este (talvez tirando o da aquisição do aparelho, mas valor superado pelo que se poupa no para/arranca nas filas para pagar). Critico, isso sim, as portagens sem portageiro. Aquelas em que temos a máquina a substituir o trabalhador (dos três casos que referi, é o único em que a máquina substitui mesmo o homem). Mais um sistema que atrasa o processo em si (muito mais rápido com uma pessoa a receber o pagamento) e apenas dá lucro aos patrões!
São três casos, mas certamente há mais. Vemos isto todos os dias. Bem, eu todos os dias não vejo porque em Espanha, até ver, ainda não assisto a isto. Às tantas na nossa inteligência superior pensamos “Ah, que atrasados estão!”, mas eu prefiro que se mantenham atrasados e “burros”! Atenção, a culpa disto é minha e de todos os que usufruem destas empresas. Dos três casos que falei, o mais difícil de evitar é o das gasolineiras. Poucas alternativas há se queremos continuar a andar de carro. Quanto aos outros dois, ainda vão tendo quer caixas quer pórticos com pessoas…poucas, mas ainda há. Ou seja, é uma opção do cliente optar pela pessoa ou pela máquina.
Numa altura que a falta de emprego é enorme, nós ajudamos e compactuamos, com o nosso silêncio, a piorar a situação!

Dizem que é a tecnologia e o seu avanço. Eu digo que é a estupidez humana, em grau muito elevado, aproveitada pela esperteza de alguns.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Star Wars, prolongar a história, vale a pena?

Ao que parece estão a fazer um sétimo episódio da saga Star Wars e, apesar de ter recebido com relutância tal notícia, fui rever os outros seis filmes. Revi pela segunda vez os três mais recentes e pela centésima vez os mais antigos.
Na minha opinião, se a saga começa em 1977 com os três mais recentes, seria um fracasso. Eu sou fanático pelos três filmes mais antigos, estão com efeitos especiais fantásticos, ainda actuais, dando uma ideia de filmes sérios. A história fantástica, principalmente para quem gosta do género, com um passado aberto e por contar. Não sei porquê, sempre associei os Jedis a Karatecas, com a sua filosofia e ética. Às tantas daí o gosto pelas duas coisas.
Foi esse passado que os três filmes mais recentes contaram. Recebi a notícia da sua produção com ansiedade. O meu mundo estava de volta, com a possibilidade de efeitos melhores e mais credíveis (pensava eu que ia ser possível). Pura desilusão. O filmes são um desenrolar de efeitos especiais, sim senhor, mas que fazem daquilo um filme mais de fantasia que outra coisa qualquer. Quase desenhos animados. Preferia as naves dos antigos! Claro que a história é na mesma contada, fico-me com isso. Mas preferia que fosse com os meios de antigamente. Com a seriedade dada aos primeiros filmes. Destes três últimos, o menos mau é o terceiro…creio que apenas pela cena final do nascimento de Darth Vader.

Por isso não sei o que vem aí com mais três filmes, não vejo nada mais a acrescentar ao mundo Star Wars. Há o risco de se perder a identidade conseguida nos filmes mais antigos e que os últimos não tiveram.
Claro que irei ver os filmes. O meu fanatismo impede-me de não os ir ver. Mas receio o que vá ver.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Dizer obrigado é pouco…

Antes de mais quero agradecer a todas as pessoas que me felicitaram no meu aniversário. Seja pessoalmente, por chamada, por mensagem ou via rede social. Obrigado por perderem um pouco do vosso tempo.
Porém, o meu agradecimento maior tem que ir para todas aquelas pessoas que me fizeram sentir em casa e em família, mesmo estando em Barcelona. Pessoas com quem não estou muitas vezes (algumas só quando vou lá ou de passagem a Venade), pessoas que não conhecia e, segundo se diz por bandas espanholas, que fiquei “encantado” de conhecê-las…e, como não podia deixar de ser, aos protagonistas deste fim-de-semana. Ao meu grande Amigo (por muitos “grandes” que escrevesse nunca seriam suficientes) Filipe e à “N”, agora sua esposa, e também uma grande amiga, pois desde que se conheceram somos dois a aturar o rapaz!
Foi um aniversário felicitado em dois dias, mas celebrado principalmente na fantástica festa do casamento deles. Sem desprimor para qualquer casamento a que já assisti, pois fui com uma forte amizade a eles todos, nunca me diverti tanto. Podia ter sido na praia, num parque de campismo, sei lá! A festa seria a mesma. Companhia de excelência à mesa, tolos quanto baste! Nenhum momento de aborrecimento, de silêncios constrangedores tão normais de acontecer quando se está com pessoas com quem pouca relação (em termos de tempo) temos.
O baile, mais parecia um “bailarico de verão”, sem parar, com surpresas quer dos noivos, quer dos convidados. Uma prova de resistência que a maior parte superou. E um desfecho em grande com o noivo a voar para a piscina!
Por tudo isto e por tudo o que não consegui transmitir por palavras, repito, o meu mais sincero obrigado. É nestas alturas que percebo o quanto a palavra pode ser curta para explicar o que sentimos.

Para terminar, uma palavra aos protagonistas do fim-de-semana. Não é preciso dizê-lo porque sei que o vão ser, mas…sejam Felizes!

quinta-feira, 5 de junho de 2014

O Rato do Campo e o Rato da Cidade…versão contemporânea!

O início...algures no ano de 2002!
Longe andava eu de imaginar que, com a minha entrada para a universidade, iria ser um dos protagonistas da nova e diferente versão de uma das histórias da minha infância. O Rato do Campo e o Rato da Cidade.
Num novo meio, numa nova cidade, a pessoa a quem mais me liguei foi aquela que à primeira vista menos teria a ver comigo. Originários de mundos e meios diferentes. Maneiras de ver as coisas diferentes, muitas vezes completamente opostas. Tal como os ratos da história tradicional. Primos afastados, que de primos pouco teriam. Um do “campo”, outro da “cidade”.
Versão Bucha e Estica!
E por aqui ficam as semelhanças com a história conhecida. Com o passar do tempo fomos escrevendo as linhas dum novo conto, provando que o respeito pelas diferenças dos outros é a base para uma sólida e sincera amizade. De um lado o Filipe (aquela pessoa que menos precisará de anonimato neste espaço) e do outro lado o Jorge. Amigos inseparáveis, quer nas alegrias, quer nas agruras proporcionadas pelo nosso percurso académico.
E por coincidência tornamo-nos ratos. Algo mais a unir-nos, algo em comum. Algo que sempre pautou a nossa amizade, boa disposição e risadas até doer a barriga. Horas e horas a fio de conversas e de ensaios. Algo que eu nunca acreditei que funcionasse (pela minha parte, nunca pela dele). Algo que ficou escrito e gravado, para um dia mais tarde recordar.
Acabado o percurso académico, muitas amizades seguiram outros caminhos. Pelas próprias circunstâncias da vida, pela distância, por desinteresse. A nossa, apesar de seguirmos caminhos diferentes, embora com um milhar de quilómetros a separar-nos, manteve-se firme, coesa. Contudo, mudou…cresceu, amadureceu, aproveitando-se cada momento ao máximo. Deu-se mais valor a uma amizade que se mantém intacta, como se nos tivéssemos visto sempre no dia anterior.
Dum lado o Filipe...
...do outro lado o Jorge!
E posso garantir que esta nossa história é uma história inacabada, que se vai manter assim até que a morte nos separe (calminha, nada de confusões, somos muito machos!). Não tenho dúvidas. As ideias podem ser diferentes, os pensamentos também, mas o essencial é a partilha de princípios. E apesar de sermos diferentes, nesse aspeto somos muito iguais.

Aproxima-se um dia muito especial para ti, meu Amigo. Sei da importância dele para ti e imagino a questão que fizesses e fazes em que eu estivesse e esteja presente. Não te preocupes, igual questão fazia e faço eu em estar contigo neste dia. E vou estar. Para te dar um forte e sentido abraço, ver se o nó fica bem apertado e se a noiva não muda de opinião…e dar-te um cachaço quando menos esperes!





Maganão e Queijo Jeitoso...





...uma vez ratos, Rato Barulhento para sempre!










Seja em Barcelona...


...seja em Pontevedra...








...seja em situações de apuro...

...sempre com alegria e amizade!



quarta-feira, 4 de junho de 2014

Os tontos alegres!

Muito se fala na busca da felicidade, nos árduos caminhos na procura de um estado permanente para o resto da vida. E é pensar na felicidade como algo que pode ser permanente, nessa perigosa ilusão, que nos leva ao perigoso limbo do abismo.
De um modo geral, a vida é um contínuo (e porque não, cíclico?) equilíbrio entre felicidade e infelicidade, de momentos de alegria e de tristeza. Creio que apenas podem escapar a este ciclo aquelas pessoas sem preocupações, sem compromissos, sem laços, aqueles que eu costumo chamar de tontos alegres. Uma vida sem objetivos (não falo de um plano rigoroso), no fundo, uma vida do tipo “andar aqui por ver andar os outros”, pode ser uma vida que permita essa felicidade eterna a quem nada dela exige. Pois a infelicidade vem da exigência que colocámos em nós em relação aos outros e também nos outros em relação a nós.
Um estudante depende das notas para ser feliz, um atleta dos resultados das competições, um pai do sucesso do filho, um filho do bem do pai…apenas e só, se houver compromissos ou laços criados. Quem não os tem, pode conseguir a felicidade contínua.
Por isso às vezes gostava de ser um desses tontos. Mas depois penso um pouco mais e a pessoa que sou não teria sentido de ser sem tudo aquilo que me pode levar ao risco da infelicidade…os laços com as pessoas que mais quero, o compromisso que tenho com a minha profissão, a responsabilidade que tenho em várias outras vertentes da vida.

Podemos ser felizes sendo tontos, mas creio que só poderemos dar valor à felicidade que conseguimos se houver algum risco/esforço na sua obtenção.