quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Adeus meu querido 2015…olá 2016!

Este ano que agora finda foi um ano de grandes mudanças, todas elas feitas com ponderação, mas com a convicção absoluta de que esse era o caminho.
A maior delas foi o regresso a casa, algo que era desejado desde aquele dia 13 de Julho de 2008, dia em que comecei a minha vida noutro país. Um desejo que foi acalmando com o passar dos anos, um sonho que estava cada vez mais reduzido a isso mesmo, um sonho. Mas podiam perguntar-me se estava a gostar ou se estava bem e a minha resposta sincera seria um “sim”.
Um mês após o retorno apercebi-me de uma coisa que andava a negar, mesmo que inconscientemente, há muito tempo. Estava perdido, mesmo sabendo onde estava. Estava mal, mesmo pensando estar bem. Estava conformado com uma vida que não era a que queria, por muito que pensasse que era.
Estive quase sete anos e meio com aquela gente, gente que durante sete anos foram a minha gente, colegas de trabalho, colegas de casa, amigos de bons momentos. E isso fica, daí as lágrimas derramadas e a voz embargada ao sair daquela casa no meu último dia de trabalho…sem ninguém ver, sem ninguém ouvir, a tentar acalmar todos os pensamentos que me iam na cabeça. Felicidade absoluta por ir em busca do meu sonho, tristeza por abandonar aquele que foi o meu lugar.
E ao voltar, simplesmente, reencontrei-me. Primeiro comigo, depois com os meus…voltei a encontrar o meu caminho. Por isso, hoje vejo as coisas de maneira diferente. Os problemas que não são problemas são relativizados. Procuro ver o melhor de cada sentimento, de cada estado, de cada situação, de cada pessoa. Descobri uma calma e uma paciência que não pensei ter. Descobri uma determinação, uma certeza do que quero e não quero, ainda maior do que tinha. Descobri que não posso ter medo de sonhar e ir atrás dos sonhos. Em três meses muita coisa aconteceu. Todas elas boas.
2015 foi um ano muito bom, que de certeza ficará sempre gravado nas minhas memórias, pelo que disse e por mais algumas coisas. Vem aí um novo ano, não sei o que me espera. Simplesmente, tenho a esperança e vontade de continuar a tornar os meus sonhos realidade e de criar novos sonhos. Dando tudo de mim no mínimo
que faça, fazendo tudo com paixão, pois só assim as coisas têm sentido para mim.

A todos os que me acompanham no dia-a-dia, a todos os que, mesmo longe, estão bem cá dentro, a todos os que fazem, de alguma maneira, parte da minha vida, os meus votos de um Feliz Ano de 2016.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Natal nos hospitais...

Começo por referir que o Natal dos Hospitais é diferente do Natal nos Hospitais. Um aparenta festa, música e alegria, o outro a realidade. Por muito que se diga, por muito que possamos fazer, ninguém gosta de passar esta noite num hospital.
Pode haver até doentes que ao passar o Natal num hospital têm um Natal um pouco melhor do que costumam ter (pessoas sem família ou de família destruturada, sem condições em casa ou sem tecto), mas nunca será uma noite de alegria.
Por muito que os profissionais tentem amenizar a tristeza que se vê nos olhos de quem cuidam, permanece sempre uma sensação de vazio. Neles e em nós. Ver doentes que manifestam o desejo de ir a casa e não podem, ver familiares que gostavam de ter os seus consigo e não podem. Tudo isto contraria o espírito que reina por estes dias. Na rua, em casa, nas redes sociais e, em alguns casos, dentro de nós mesmos.

Claro que sei o difícil que é para maioria dos profissionais abdicarem desta noite que devia ser com os seus, para se dedicarem a outros. Se há noite que me custa trabalhar é a da véspera de Natal, mas quando me toca, olho para tudo o que tenho e para o que vou perder e olho para o que aqueles de quem ajudo a cuidar têm e vão perder. Apercebo-me que queixar-me é contrariar tudo o que defendo nesta época...e porque não, o que defendo para todo o ano.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Um diferente tipo de Natal…

Estamos em plena época natalícia, a altura do ano que mais significado tem para mim, em que mais sinto necessidade de estar rodeado dos meus.
Este ano vai ser um Natal especial. Vou estar realmente em casa, a prenda que levava anos a pedir e este ano finalmente me foi concedida.
Sem saudade, sem pressas, vou poder desfrutar novamente dum Natal completo com a minha gente, e quando falo e gente, em primeiro lugar falo da minha família, as pessoas que sempre me deram tudo desde que nasci, a quem devo a pessoa que sou hoje. De seguida, falo dos meus amigos, daqueles que sabem muito bem o que significa esta palavra para mim. Aqui lamento não os ter todos perto, mas foram, são e serão parte de mim.
Serve isto, para desejar a todos eles um Feliz Natal, mas não só a eles.
No me puedo olvidar de todas las personas que durante años han sido “mi familia”, que  hicieron con que Pontevedra haya pasado a ser”mi ciudad”. A todas mis antiguas compañeras de trabajo, les deseo una Feliz Navidad.
Não esqueço aquelas grandes amigas e grandes amigos que estão longe, mas estão sempre perto do coração. Para eles e para as suas famílias, um Feliz Natal.
E por fim, desejo um Feliz Natal a todas as pessoas que conheci recentemente, aos meus novos colegas de trabalho que me receberam de braços abertos, e a todas as outras que fizeram e fazem este regresso valer a pena.
A todos vocês, que o calor do Natal encha a vossa casa.

“Live while you can, cherish the moment
The ones that you love, make sure they know it

Don't miss it, the heart of Christmas”

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Lembranças...

Há despedidas que custam, outras doem…outras ficam gravadas eternamente nas nossas memórias. Os próximos dois dias recordam-me duas despedidas, daquelas que nunca deveriam de acontecer, mas que fazem parte da vida.
Daqui a umas horas, faz 12 anos, dizia adeus à minha avó, acordado dum sono intranquilo, prenúncio do que já se avizinhava. Tardei em acordar das palavras que o meu pai me tinha dito. E neste momento, homem já feito, saudoso, recordo os momentos da infância em que a minha avó era um porto de abrigo, em que o amor e carinho dela faziam-me sentir o neto mais afortunado do mundo…os meus primos e primas dirão o mesmo. Lamento não tê-la abraçado mais vezes, não ter-lhe dito todas estas palavras ainda em vida, que era o que merecia.
E amanhã, faz também 4 anos que, acabado de chegar do turno da noite, preparando-me para descansar, recebi aquela chamada a dizer que o meu avô tinha partido. Lembro-me como
se fosse hoje, de me ter sentado, de ficar com o pensamento suspenso, tardando em saber se era verdade ou se estaria a dormir, talvez por não me ter podido despedir dele. Hoje sinto saudades das inúmeras histórias que me contava, ele sempre sentado no sofá principal, eu sempre atento, maravilhado pelas façanhas dele em terras longínquas. Apesar de não o demonstrar muito, homem de vida dura, sei que ele gostava e tinha orgulho dos netos. E eu nele, pois, pelo exemplo, passou-me valores que rareiam hoje em dia.
Sou o que sou, em grande parte a estas duas pessoas. Passem os anos que passem, mesmo que as suas imagens se desvaneçam da minha memória, mesmo que as fotografias se desbotem, o legado que eles me deixaram seguirá vivo dentro de mim. E eles seguirão vivos em mim e nas minhas acções. É o mínimo que posso fazer para homenagear quem foi tanto para mim e me deu o que o dinheiro não pode comprar.

Beijo do vosso neto…de saudade imensa.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Bodas de Prata

25 anos...25 fotos
Apesar de ainda me considerar um jovem, estou a cumprir as bodas de prata numa das relações mais importantes da minha vida. Seja em que situação for, hoje em dia, não é muito fácil alguém manter-se 25 anos nalguma coisa. É preciso dedicar muitas horas, ter sentido de lealdade e de compromisso, acima de tudo, ter aquilo que muitas vezes nos sai da boca para fora de forma demasiado fácil…amor ao que fazemos.
Faz agora 25 anos que eu, então com 7 anos, iniciei o meu caminho no Karate. No karate e na AKF, nesta que se tornou a minha segunda casa, a minha segunda família. Desde esse dia até hoje, foram muitas as pessoas responsáveis por este amor ter crescido, devagar devagarinho, mas ao ponto de poder dizer que é para a vida. Todos os meus Instrutores/Senseis; todos os colegas que fui tendo ao longo do tempo, principalmente aqueles que seguem a caminhar ao meu lado, aos quais chamo de Irmãos; todos os meus adversários dentro do tatami; à minha Sensei, um exemplo desde sempre; aos meus Pais, que souberam sê-lo e escolher o que era melhor para mim, quando pensei em desistir…mas há uma pessoa que me incutiu verdadeiramente o amor pelo Karate e foi/é a minha grande influência…o meu Mestre.
Sou um privilegiado por ter crescido, enquanto homem e karateca, tendo como mentor o Sensei Marinho, a pessoa mais apaixonada por esta arte que eu conheço. Pouca gente imagina a quantidade de pessoas que passaram pelas “mãos” dele. Desde que eu entrei perdi a conta a toda a gente que partilhou treino comigo. E há muitas pessoas que passaram por esta casa antes disso. Perdi rasto a muitos, de outros vou tendo notícias. No geral, posso dizer que a maioria se tornou naquilo que devia ser a nossa primeira obrigação enquanto Instrutores/Senseis…pessoas de bem, pessoas formadas (não tem que ser com estudos), pessoas com o seu lugar na sociedade, com valores e princípios. E não tenho a mínima dúvida que terem passado nesta casa contribuiu de alguma maneira para isso.
Tudo isto numa cidade pequena como Fafe. O papel social da AKF, desde os seus inícios até agora, não pode ser sobrevalorizado. E tendo sempre à cabeça o Sensei Marinho. Uma pessoa que, apesar de toda a obra feita, demonstra uma das grandes virtudes que o Karate deve fomentar nos seus praticantes…a humildade. Nunca o vi em busca dos “holofotes”. Pelo contrário, deu sempre esse espaço para os seus alunos.
Sem querer mostrar sobranceria, acho que esta pequena cidade deve algo a este grande Homem. Não sei o quê, nem como, mas deve.
Por isso, quando estão a fazer 25 anos que me juntei a esta família, dou os meus parabéns ao Mestre e ao Homem que mantém viva a sua paixão por esta Arte, transmitindo um pouco dessa paixão para todos aqueles que têm o privilégio de absorver dos seus conhecimentos.
Obrigado Sensei Marinho!

OSS!

domingo, 25 de outubro de 2015

Um bom turno…



Há uma coisa que sempre esteve presente na minha vida profissional. Mais que uma coisa, uma atitude que revejo na maior parte das pessoas cuja enfermagem faz parte da sua vida.
Quando chega o fim/início de um turno, há uns colegas a sair e outros a entrar. Em muitas outras profissões um “até amanhã” ou um “bom fim-de-semana” são as frases que mais se ouvem.
No nosso caso o que mais se faz ouvir é “tenham um bom turno” de quem sai e um “tenham um bom descanso” dos que ficam. Isto porque quem sai sabe que os turnos, por mais rotineiros que possam ser (parecer), nunca apresentam a segurança de que tudo vai correr bem. E quem fica sabe o que pede o corpo e a cabeça dos colegas que fizeram o turno.
Repetindo algo que digo muitas vezes, somos gente que cuida de gente e, para que isso aconteça, temos que cuidar de nós em primeiro lugar.
A todos os colegas que estão a entrar…um bom turno!
A todos os que saem…um bom descanso!


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Para mis compañeras









Hace dos semanas he salido de ahí con una lágrima en el canto del ojo. Después de siete años llegara mi último turno en el sitio que ha acabado por ser como una segunda casa para mí.
Las despedidas fueran breves porque mucho me iba en el alma. He crecido como profesional y como persona en  Santa María, he vivido inúmeras experiencias, momentos buenos y menos buenos, pero todos inolvidables.
Hoy me despedí con más tranquilidad, con la cabeza más fría, a pesar de en la hora de del discurso me temblaren un poco las manos. Me han preguntado sí vos voy echar de menos. Echaré de menos, siempre, a todos los que me han recibido, acariñado, ayudado, que han tenido mucha paciencia conmigo. Pero he cambiado para algo que yo buscaba, mi vida ha dado una vuelta de 180º. Y cuando buscamos algo que queremos, solo tenemos que estar contentos sí lo conseguimos. Y mirar para delante, como vos he dicho. Porque si quedamos mirando para lo que dejamos para tras, podemos no tener las ganas necesarias para agarrar el presente y futuro.  Del pasado quedan los recuerdos, las amistades y el compañerismo,  que no tienen porque terminar.
Las personas pasan y las empresas siguen ahí. Nadie es insubstituible, yo mucho menos. Espero haber hecho el suficiente para dejar mi huella en vosotras (como vosotras dejasteis en mí), pero en este momento ya hay otra persona que está empezando a construir su historia ahí.
Ayer salí de ahí, no con una lágrima, pero con una sonrisa. De felicidad, por lo que es mí futuro inmediato y por todo que he conseguido junto a y con vosotras.
No me canso de decirlo. GRACIAS por todo.

Hasta cualquier día chicas…en la calle, en el café o alrededor de una mesa!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Mais um, "J"...

Como o tempo passa. Ainda me lembro de te segurar no colo, com algum receio que partisses algum osso de tão pequenos que eles eram.
De repente gatinhas, andas, corres, saltas, sobes a tudo e mais alguma coisa. Começas a falar e a dizer coisas que não lembram ao diabo! Pegas-me na mão e vais-me mostrar sempre o teu quarto que procuras manter sempre arrumado…do teu jeito. Jogamos às escondidas e mesmo a saber onde me escondo, achas um piadão! E quando sou eu a procurar, preocupas-te mais em dizer “aqui, aqui” do que em esconder-te.
Bem, hoje fazes anos, como se diz aqui em Espanha, cumpres anos. São três a fazer jus ao que tu tanto gostas de apregoar “Sou um homem!”
Desejo-te o que te desejo todos os dias, um dia em grande e que sejas o “homem” mais feliz do mundo! Sempre a virar tudo de pernas para o ar por onde quer que passes!
Um feliz aniversário e, acima de tudo, diverte-te!

Um beijinho do padrinho

domingo, 6 de setembro de 2015

Refugiados…tudo, menos um caso simples.

Antes que comecem os insultos, quero dizer que todas as imagens que vemos sobre os refugiados me impressionam.
Acho muito bem a onda de solidariedade que ocorreu no facebook ao partilhar um sem número de vezes a foto de uma criança morta. Quando ocorreu um acidente de comboio em Santiago também passaram vezes sem conta imagens do descarrilamento e dos mortos a serem retirados…na altura chamei a isso sensacionalismo. Só que desta vez não passam imagens do “acidente” que origina estas mortes sem fim. Não, não falo dos naufrágios. 
Será que só nos lembramos dos refugiados quando começam a dar à costa? Sabemos porque são refugiados, certo? Que movimentos (virtuais e não virtuais) foram feitos para parar as guerras que matam há anos crianças ainda mais novas do que aquela que foi usada, de forma sensacionalista, dia a fio nas redes sociais?
Até agora assobiamos para o lado, não nos dizia respeito, era tão longe que nós não ouvíamos os tiros nem as bombas…nem víamos os civis mortos a dar a costa. Pois, esses deixam de ter necessidade de sair do país. 
Defendo uma ajuda humanitária a estas pessoas. Não sei qual nem como. A situação não é fácil. O nosso sentimentalismo diz-nos “abram as portas”. Grita-se apelando à ajuda (mais uma vez via facebook, através do caps lock). Façam-se as coisas primeiro, pense-se nas consequências depois. Sim, que as vai haver. E sei que toda a gente que apela à ajuda vai ter total compreensão quando os problemas, de várias ordens, surgirem.
Sei que ninguém diz isto, a sério, ninguém, mas de vez em quando ouço passarinhos a cantar “os ciganos deviam de ir para a terra deles!” ou “esta gente de leste só traz problemas!”. Ainda há uns tempos, um hospital em Portugal recebeu feridos de guerra Sírios (se não me engano). Os relatos do que se passava lá dentro, mais uma vez cantados por passarinhos, insinuavam cenários caóticos nos serviços, devido à extrema educação dos feridos. E houve total compreensão. Isto, só como exemplo.
Vamos ajudar. Eu dou uma solução. Cada família, cada pessoa que tenha uma casa, abre as portas a um refugiado ou a uma família deles. Temos que lhes dar de comer, roupa e tudo o que faça falta para terem dignidade. Quem disser que não, fica sem moral para dizer aos Estados para abrirem as portas das suas casas.
Depois critica-se quem apela à ajuda às pessoas que vivem indignamente dentro do nosso país, subitamente esquecidas (será que alguma vez são lembradas?). Mas não há só sem-abrigos. Há idosos e crianças abandonados…vá, que asneiras estou eu para aqui a dizer? Ninguém abandona idosos e crianças. E só por se dizer isto, somos pessoas que queremos deixar os refugiados à sua sorte.
Repito, lamento muito a situação destas pessoas. São humanos e precisam de ajuda. Isso não está em causa. Apelo à ajuda, mas sem exigir o que seja. Apenas espero que todas as decisões sejam tomadas com o máximo de humanismo (para quem quer entrar e para quem já cá está, para não passarmos a ter dois problemas).
A solução do problema? Parar a guerra. O resto são remendos. Não me digam que é impossível. Há uns anos, um pequeno país ajudou um ainda mais pequeno não país a livrar-se de anos de massacres (durante anos esquecidos por todos) …lembram-se de Timo-Leste?




quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Minha querida Avó

Minha querida Avó,

Creio que nos disseste adeus há uns 12 anos. Muito tempo para algo que parece que ainda foi ontem.
Sorrio ao recordar a tua voz que ainda tenho bem presente...
Sorrio ao recordar as tuas feições que ainda tenho bem presentes…
Sorrio ao recordar o teu toque que ainda tenho bem presente…
Ao mesmo tempo cai-me uma lágrima e turva-se a visão ao saber que um dia, que não sei quando será, verei desaparecer da minha memória o som da tua voz. Que um dia deixará de estar presente a recordação do calor do teu toque. Que um dia terei que recorrer a fotografias para avivar as lembranças das tuas feições.
E peço desculpa por isso. Merecias, por tudo o que sempre foste, de ficar bem guardada na minha memória. Digo o todo, porque o mais importante está gravado como se fosse uma marca de ferro em brasa. O que sinto e tudo o que foste para mim, não há passar dos anos que o possa apagar.
E o que foste? Foste Avó, por momentos Mãe (apesar de ter a melhor delas), sempre um porto seguro. Eu não tinha um monte de brinquedos na tua casa (possivelmente teria alguns, não me lembro), não tinha nenhuma consola, não tinha bolas de futebol, não tinha bicicleta…mas a verdade é que sempre fui feliz na tua casa, sempre tive tudo o que precisava. A tua atenção, a tua dedicação, a tua companhia, o teu carinho, o teu amor.

Hoje farias anos e as saudades apertam um pouco mais. Apenas gostaria que fosse possível aproximar-me de ti, abraçar-te, dar-te um beijinho e dizer-te “Feliz aniversário Vó”.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Armas de fogo, o mito da (falsa) segurança

Recentemente, num almoço com uma daquelas pessoas que dá gosto conversar e “discutir” temas e ideias, veio à baila o tema de posse de armas de fogo. O dilema entre os cidadãos poderem e deverem andar armados, sempre escudados no lema “defender os meus”, ou de não poderem. Atenção, falamos de cidadãos normais, que não pretendem uma arma para andar aí a roubar nem a intimidar quem quer que seja.
Eu consigo entender quem diz que se sente mais seguro armado. Quer dizer, entendo que ele pense isso porque ainda não pensou dois segundos sobre o assunto.
Imaginemos uma discussão na rua, tipo no trânsito e avaliemos várias hipóteses. Estão os dois armados. Qual a probabilidade de a coisa dar para o torto? A rondar os 100% diria eu. Está um armado e o outro não. A probabilidade diminui, ainda mais se o que está sem arma não se armar em valentão (atenção, não digo que seja justo). Terceiro cenário, nenhum está armado. Quanto muito envolvem-se ao murro e ao pontapé e sofrem uns arranhões.
Com um exemplo tão simples, começamos logo a descortinar alguma coisa.
Depois toda a gente que quer e pensa ser capaz de ser portador de uma arma, parte do pressuposto mais errado que pode haver. Que é uma pessoa controlada e que nunca vai usar a arma sem ser em legítima defesa. E o que entendemos aqui como legítima defesa? No caso que dei antes, se discuto com alguém, em vez de andarmos à pancada dou-lhe um tiro. Pronto, foi em legítima defesa, certo? Quem é que pode assegurar que tendo uma arma não o faria? Há uma discussão sobre um caminho. Eu acho que o vizinho está a invadir a minha propriedade, dou-lhe um tiro. Foi em legítima defesa da minha propriedade, certo?
Quantas vezes não nos passou já pela cabeça, num determinado momento em relação a certa pessoa isto “Se pudesse dava-lhe um tiro!” Coisa que nunca aconteceu porque não tínhamos tal artefacto à nossa mão…e se tivéssemos?
Depois temos ainda estes casos de crianças que matam crianças sem querer, apesar dos pais garantirem em todos os casos que a arma estava num sítio seguríssimo e que não percebem como tal coisa pôde acontecer.
Para quem acha que tudo se tornaria mais seguro com todos armados, veja-se a selva que são os EUA. Quantos casos de massacres com armas de fogo já vimos pelo televisor? Sim, parece um filme…mas para as famílias que perderam os seus não é. Ainda no outro dia, na manifestação pelo jovem negro que foi morto pela polícia, começa um aos tiros à polícia. Foi alvejado pela polícia e esta ainda é vista como a má da fita.
A meu ver, andar armado pode dar-nos uma falsa sensação de segurança, mas o que faz realmente é expor-nos muito mais ao perigo. Nem que se façam testes psicotécnicos, nada pode garantir que a pessoa mais calma do mundo não comece por aí aos tiros.

Já tivemos um Oeste selvagem, não queiramos voltar atrás no tempo. As armas a quem de direito, às forças da autoridade. Aos cidadãos, armas zero.

domingo, 9 de agosto de 2015

Nós é que sabemos...

Acerca do tema do alerta da PSP para que as pessoas não publiquem fotos de crianças nas redes sociais, reparei com curiosidade, que a notícia foi bastante divulgada através dos leitores dum blogue, cuja autora era contra este alerta da PSP, dizendo que são muitos os meios e pais a partilhar fotos de crianças, que pedófilos já existiam antes das redes sociais e que uma simples saída de casa era um risco. As pessoas só não se aperceberam que, na maioria das vezes, apenas partilharam a notícia e não o pensamento da autora, como era pretendido.
Antes demais, cada um faz o que quer e assume as possíveis consequências dos seus actos. Quer neste caso, quer em qualquer situação do dia-a-dia.

O que acho importante de salientar é que isto é um apelo das forças de segurança. Já sei que, por norma, todos nós achamos que "nós é que sabemos", demonstrando assim todo o nosso direito de reflectirmos e contrariarmos todas as recomendações profissionais, seja da policia, do médico ou enfermeiro, do psicólogo, do professor etc. Eles são profissionais, lidam com situações quem nem sequer nos passam pela cabeça, mas pronto, nós é que sabemos.
Se a PSP faz este alerta, não acredito que seja só porque sim, mas por toda a experiência que têm com estes casos...que, sendo assim, devem ser reais!
Não critico quem põe fotos, apenas acho que deve haver uma séria reflexão sobre o tema e não se deve relevar um alerta destes. Os outros fazerem, para mim nunca foi uma justificação para eu fazer igual. 
A questão aqui não é o de escondermos os filhos em casa, porque riscos sempre houve...agora há mais. E há mais porque nós os potenciamos. Não precisamos de os esconder, mas também não temos dos expor.
Somos todos muito atentos aos filhos, mas a verdade é que seguem a entrar nos hospitais miúdos com queimaduras, "rachados"etc...coisas que às tantas acontecem quando os pais estão a publicar as fotos no face! Coisas que acontecem por muito avisados e atentos que estejamos.
smile emoticCoisas que acontecem a qualquer um, apesar de todos estarmos mais do que avisados e super atentos.
O problema aqui, na maioria dos casos, é o nosso ego. O sabermos que uma foto com uma criança vai ter mais atenção, likes, comentários elogiosos etc. Ou se não for por isso, pelo simples facto de estarmos a mostrar (no caso dos pais) o nosso rebento, que diga-se de passagem, é o mais lindo do mundo! Não o digo que o façam conscientemente com este propósito, mas inconscientemente é isso que os leva a fazer isto. Só assim concebo que uma geração de pais super protectores consiga minimizar um alerta deste género. Mas é apenas a minhas opinião.
E termino então com a pergunta:
Que interesse tem a criança (e vantagens) em ver a sua foto publicada numa rede social?

terça-feira, 21 de julho de 2015

E agora, meus caros?

http://www.rtp.pt/noticias/pais/tribunal-central-administrativo-confirma-anulacao-de-eleicoes-da-ordem-dos-enfermeiros_n845369

Antes de mais, quero dizer que algumas coisas que se apontam a esta direcção, são problemas que já vinham detrás. Uma delas, o pagamento de cotas, alvo de um recente regulamento, que mais não é do que atirar areia para os olhos das pessoas. (http://www.ordemenfermeiros.pt/legislacao/Documents/LegislacaoOE/Regulamento_isencao_de_pagamento_de_quotas.pdf )
Não indo ao pormenor de analisar pontos ridículos, aos quais tão bem estamos habituados devido à sua proliferação noutras áreas políticas, ressalvo um em que ficam isentos “Enfermeiros recém inscritos, recém licenciados e desempregados que se encontrem à procura de primeiro emprego e com inscrição no Instituto de Emprego e Formação Profissional”.
Em primeiro lugar, para mim, desempregado é desempregado. Por isso a isenção devia de ser para todos os enfermeiros desempregados…na área. Porque posso ter trabalho sem ser em Enfermagem e estou obrigado a pagar cotas que não devia de pagar. Em segundo lugar, sabem os senhores da OE, que se um enfermeiro é chamado pelo Instituto de Emprego por uma oferta de trabalho, imaginemos dessas de 3,96 euros/hora, e que a rejeita, esse colega é excluído do Instituto de Emprego? Ou seja, estão a favorecer algo que deviam de combater.
De resto, creio que isto é um dos males menores da situação actual da OE. Uma Instituição que tem uma direcção ilegal durante mais de 3 anos. Claro, isto num país que permite que uma coisa destas se arraste 3 anos, com as consequências que daí advêm. Que acontece agora com todas as decisões tomadas? Com todas as representações televisivas (mal) feitas? Já ouvi dizer que as mesmas pessoas estão a preparar-se para as próximas eleicções. Como se costuma dizer “À mulher de César não basta ser séria, tem que o parecer!” E da seriedade de certas pessoas já duvido há muito! Vou esperar atentamente os próximos capítulos desta novela.

A meu ver, quem tome conta da direcção da OE não pode, de modo algum, perder o sentido de “Ser Enfermeiro”. Para políticos já basta os que estão na assembleia.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Pela primeira vez desde há 31 anos, festejei os anos em 2 dias.
Houve um pré-aniversário em que crianças maiores e crianças mais pequenas passaram uma tarde memorável e que só dá vontade que chegue o próximo ano para repetir…mas pode chegar com calma! Porque, sem dúvida nenhuma, o melhor do mundo são as crianças, estar com eles todos foi uma prenda antecipada. Não foi trabalho, foi diversão.
Houve cantar os parabéns há hora exacta de ter nascido, proporcionado pelas crianças maiores.
Houve festa maior durante o dia, junto a parte da família, um daqueles momentos que não os troco por nada. Matar saudades que, por vários motivos, aumentam. Estar com a minha princesa, cada vez mais bonita e que me faz ter sempre a caçadeira preparada!
Houve todas as mensagens recebidas ao longo do dia, das mais variadas formas.
E a cereja em cima do bolo, o meu pequeno traquinas a cantar-me os parabéns, sem desafinar!

Tudo isto fez-me ter um aniversário diferente, preenchido, cheio de calor humano, do carinho de família e amigos. A todos, o meu mais sincero obrigado!




quinta-feira, 21 de maio de 2015

O mundo ao contrário...

Como todos sabem sou adepto do Benfica. Quem me conhece melhor, sabe que gosto de futebol. Não sou capaz de estar uma tarde inteira a ver vários jogos de futebol. Vejo os do Benfica e selecção e, quando posso, assisto aos do Real Madrid e do Chelsea, por questões óbvias. Fora isto, poderei deitar o olho a um grande jogo. Mas questão, questão, faço em ver os do Benfica.
Sou do Benfica porque sim, nunca tive um pai fanático por nenhum clube e que me impusesse a minha cor clubística…apesar de acabar por termos a mesma cor, ele do Braga, eu do Benfica. E o que sinto hoje pelo Benfica e o gosto que tenho pelo futebol, agradeço-o ao meu pai, que aos 9 anos levou-me a ver pela 1ª vez um jogo do Benfica a Guimarães (que irresponsabilidade!). Bancada central, nada de adeptos separados. Civismo absoluto. Naquela altura acho que se vendiam mais bilhetes que os lugares que havia, daí ter passado o jogo todo a pé, algo que não me incomodou nada de nada. Ganhou o Benfica, 2 a 1, recordo um golo do Ailton de cabeça de fora da área e de sair do estádio, calmamente, e de termos parado num daqueles vendedores de artigos do clube, onde o meu pai me comprou a minha 1ª e única bandeira do Benfica.
Depois disto, fui ainda ver alguns jogos a Braga. Um quarto do estádio gritava golo d Braga e todo o estádio gritava golo do Benfica. E voltei a ir a algum jogo em Guimarães. Foi com esta normalidade que aprendi a gostar de futebol e do Benfica.
De repente, num jogo em Guimarães, à saída e sem que nada o fizesse prever, caíram pedras sobre nós. O meu pai nunca mais foi comigo a um jogo lá. Algo que na altura me fez confusão, porque raio não posso ir ver o meu Benfica, quando ele vem jogar tão perto de minha casa? Mais tarde uns anos, já no pós-Euro 2004, mais do mesmo. Pedras a caírem à minha frente. Que mal tinha feito eu? Os adeptos do Vitória colocados, como um exército, no monte em frente à saída do estádio a arremessá-las. O mesmo se passou em Braga, ainda no 1º de Maio, num final de jogo que houve pedras a voar na nossa direcção. E ultimamente mais do mesmo tem acontecido.
Engraçado como duas cidades rivais, que dizem ser muito diferentes, se tornaram tão iguais devido ao futebol.
Posto isto, chego ao que interessa. O senhor que apanhou do polícia em Guimarães podia ser o meu pai. Que se visse algum polícia daquela vez que nos mandaram pedras também era capaz de ter reclamado. Por isso muito, mas mesmo muito, custa-me entender o discurso “culpa teve o pai em levar o miúdo ao jogo!” Isto só é possível em alguém com as ideias de cidadania e liberdade completamente viradas do avesso. O pai apenas fez o que o meu pai em tempos fez por mim. Nem um nem outro são inconscientes nem criminosos…nem muito menos culpados do que seja.
Culpas? Têm os dirigentes e esses não apanham bastonadas. Como merecia o vice do Vitória na semana antes do jogo, ao atiçar os adeptos do próprio clube ao dizer, tal lobo em pele de cordeiro, “Não festejem em Guimarães, vão lá para o Marquês!” Culpas? Têm as organizações dos jogos em deixar que se misturem adeptos normais e claques. Como já me aconteceu e aconteceu também neste jogo. Há gente nas claques que não está lá pelo futebol, nem lhes interessa que a pessoa ao lado seja da mesma equipa. São um perigo para todos, então como é possível deixá-los, sem controlo policial, com o resto dos adeptos?

É verdade, eu deixei de ir ver jogos a Guimarães e Braga. Pelo que pago, vou a Lisboa ver os jogos à Luz, em segurança e conforto. Mas não consigo criticar um pai que leva um filho a um jogo, seja ele qual for, porque pensa que está num país livre. O normal para mim é poder ir ver qualquer espectáculo, as anormalidades ficam com os anormais. Quem o critica, pensa da mesma maneira daqueles que atiram as pedras e destroem tudo por onde passam.

terça-feira, 12 de maio de 2015

A greve da TAP

Muito se tem falado sobre a greve da TAP, sobre a sua justiça e, principalmente, pela sua injustiça. (http://sol.pt/noticia/391660)
Antes de mais, a greve é um direito de todos os trabalhadores. Sejam pilotos, médicos, enfermeiros, carteiros, professores, empregados têxteis etc. Claro que toda a gente sabe, sem paninhos quentes, que greves no sector privado são muito improváveis, pois, de modo camuflado, há sempre “ameaças” no ar. O que está mal. Direito devia ser igual, seja privado ou público.
Posto isto, não entendo o alarido pelos incómodos provocados pela greve dos pilotos. Eu não sei os motivos, atenção. Sei que apenas 30% dos pilotos fizeram greve. Ok, pode suscitar a pergunta “Terão 30% razão e os outros 70% estarão errados?” Também se pode criticar e eu critico a imbecilidade de um gabarola dizer “provocamos um prejuízo à empresa de 30 milhões de euros”, quando muitas empresas, por muito menos que isso fechavam as portas.
Agora, não critico a greve nem os transtornos que trouxe. Sim, não me afectou, se me afectasse às tantas mandava os pilotos dar uma volta a certo sítio, mas a frio, apenas posso dizer que estão no seu direito.
As greves servem para os trabalhadores mostrarem insatisfação pelas condições laborais e para mostrarem, a quem de direito, que o papel que desempenham é importante no seio da empresa. Que sentido faria fazer greve se assim não fosse?
Eu não posso ser hipócrita e criticar os pilotos, quando há muito que defendo uma greve total da minha classe, que tem vindo a ser massacrada ano após ano. Infelizmente isso não é possível e os transtornos não se fazem sentir, pois a questão dos serviços mínimos, ficando a cargo da consciência de cada um, é de uma completa subjectividade. Ou seja, mesmo havendo menos gente nos serviços, em vez de assegurarem os cuidados mínimos, matam-se e esfolam-se para que o dia corra o mais normal possível…e pergunto eu, para quê então fazer greve? Será que queremos mostrar que fazemos falta ou que com menos gente se faz o mesmo? Que até pode ser mal feito, mas aparece feito e é o que conta para as estatísticas.
E como não posso ser eu hipócrita não pode ser muita gente. Ou todos os que os criticam nunca fizeram greve com transtornos para os demais? Os professores fizeram greve a exames e sempre os defendi. Médicos fazem greve e consultas que pessoas esperam meses por elas são adiadas por tempo indeterminado. Os homens do lixo fazem greve e as cidades ficam a cheirar pior.

Como eu costumo dizer, com o mal dos outros posso eu bem. Para terminar deixo a pergunta, nota-se egoísmo maior da parte dos pilotos ou da parte de quem os critica? 

terça-feira, 28 de abril de 2015

Artigos manipulados...

http://br.guiainfantil.com/blog/bebes/desenvolvimentopor-que-nao-se-deve-deixar-o-bebe-chorar/


Este é mais um daqueles artigos que, bem manipulado, é bem capaz de fazer uma mentira tornar-se verdade.
O título sugere-nos para uma ideia…não podemos deixar os bebés chorarem (1ª manipulação). Eu logo à partida fico com muitas dúvidas. Primeiro acho que se deveria definir melhor o período de tempo em que consideramos um bebé, bebé, e, se mesmo sendo bebés, se não haverá diferenças comportamentais neles consoante os meses que tenham. É diferente ter um ser de seis meses à frente, do que ter um de um ano ou ano e meio.
Depois lemos mais um pouco e explicam-se as situações em que os bebés choram (2ª manipulação)…ou pelo menos algumas das razões porque choram. Diz o expert que o que traz stress ao bebé e o faz chorar é  “Perder a sua mãe de vista? Ter que suportar barulhos fortes? Ter fome? Dor? O Dr. McKenna responde com tranquilidade: o que mais produz estresse em um bebê é se sentir desprotegido, chorar e não encontrar consolo. Chorar e não ser atendido.
Claro que concordo, se estivermos a falar de um ser de meses, que ainda não tem muita noção do mundo que o rodeia (incluindo pessoas, sentindo-se protegidos pelas presenças mais sentidas). E também concordo que a partir de certa idade eles também choram por não verem a SUA VONTADE atendida. E arrisco-me a dizer que ocorre muitas vezes antes de chegarem ao ano de idade. E esta sim, sem serem precisos grandes estudos, é a grande causa de choro e de “stress” dos bebés (ou dos pais ou de quem está com eles).
E a partir daqui, a decisão cabe aos pais. Criarem uma criança educada, que aprende a respeitar os outros e o que é dos outros, a respeitarem os mais velhos etc, ou, ao invés disso, criarem um ser prepotente, mimado e sem respeito algum por regras sociais. Atenção, podem haver birras, mas elas, a meu ver, deve ser usadas como momentos de aprendizagem da criança, no sentido do que não devem fazer…e não do que devem fazer para terem o que querem.
E acabo com o exemplo que costumo dar…quando eu era criança, quer no Karate, quer na escola, eu tinha, mais que medo, vergonha de ser chamado a atenção por mau comportamento. Hoje em dia parece que quem ensina é que tem que ter vergonha ou receio de chamar alguma criança a atenção. E estas (generalizando), entram em qualquer lugar sendo donos e senhores de tudo.
E pronto, temos o mundo virado ao contrário…ah, na minha modesta opinião, porque não os deixamos chorar!

 P.S. – A 3ª manipulação, consciente ou não, parte da partilha deste artigo (e de outros parecidos) pelos próprios pais, na tentativa de justificarem alguma coisa. Mas não precisam disso. Os pais serão sempre juízes em causa própria. Serão sempre os responsáveis máximos pela educação (boa ou má, mas sempre deles) dos seus filhos. E ninguém tem que se meter. Têm é que saber assumir o que daí sair. O bom e o mau!

sábado, 25 de abril de 2015

...

Poeta não pretendo ser
No relatar deste meu viver.
Escolhi ser Enfermeiro,
Para colocar sempre o doente primeiro!
Ou será que da Enfermagem fui eleito
Para levar calor a cada leito?
Vida dura, de sacrifício,
Às vezes andamos perto do precipício.
Doenças, morte, insultos,
Saber, esperança e indultos.
Corpos cansados,
Olhares desesperados,
Suspiros desanimados,
A cada turno reanimados.
É um privilégio fazer parte,

Desta ciência que é uma Arte!

terça-feira, 21 de abril de 2015

Ginásios e o culto do (não) desporto!

Apesar de ser frequentador de um, sinceramente é um local no qual me sinto algo deslocado. Vou mais por necessidade, que por gosto. Claro que os ginásios, hoje em dia, oferecem uma vasta gama de actividades, muitas delas interessantes, mas vou-me focar nas salas de musculação, o grosso do mercado dos ginásios.
Obviamente que não conheço todas as pessoas que frequentam aquela sala durante um dia. Mas as caras que vejo costumam ser, mais ou menos, as mesmas. Sendo assim, porque será que ninguém (sem ser o monitor) se fala nem se saúda (acho que é o mínimo)? Claro que o caso muda de figura, se o interlocutor for uma pessoa do sexo feminino, caso seja possuidora de umas curvas vistosas…as outras são sujeitas ao mesmo ostracismo que os demais.
Muitos dos frequentadores destes locais, frequentam-nos por razões estéticas e não de saúde ou bem-estar. Pretendem resultados rápidos (muitas vezes obtidos de formas menos claras…apesar de em nenhum ginásio do mundo se consumir coisas ilegais ou que fazem mal!) e não criar em si um culto que vai para além do ginásio…o gosto pelo desporto e pela actividade física. Claro que se faz actividade física, mas com completa ausência dos princípios do desportivismo…e muitas vezes das simples regras de boa educação. Excluo destes casos, os culturistas, pois culturismo é desporto e as pessoas que o praticam têm em si o valores desportivos.
Vem isto tudo a propósito de algo que eu e os meus amigos e colegas de treino mais velhos, no Karate, temos falado e tentado incutir nos mais novos. Seja na nossa arte ou em qualquer outro desporto, é importante o respeito pelas pessoas que nos treinam e com quem treinamos. Desde cedo incutimos nos mais novos que ao chegarem ao local de treino, mandam as boas regras, que se cumprimente as pessoas presentes, nem que seja com um “Olá, boa tarde!”. Podem-me dizer que isto é apenas uma questão de boa educação. Nem mais. E mal será o dia em que, seja o Karate, seja outro desporto, não promovam os valores educativos necessários para viver em sociedade. E respeitando o colega de treino, mais tarde, em competição, respeitaremos o nosso adversário.

Porque o que interessa não é apenas o treino…mas sim o que ganhamos com ele.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Perigosa e triste realidade!

Esta reportagem (http://www.tvi24.iol.pt/videos/1-hora-e-35-minutos/552c25210cf2002a90b87513/1) anda a ser partilhada há alguns dias, mas só tive oportunidade de a ver agora.
Sinceramente, nem sei bem o que dizer, nem sei se há muito para se dizer. Dói-me a alma de ver as imagens. Pelos doentes, pelos seres humanos que têm de passar por isto, que se veem privados do seu humanismo e dignidade.
Mas desculpem-me o egoísmo, dói-me ainda mais a alma, ao ponto de chorar por dentro, pelos meus colegas de profissão. Eu não tenho a menor dúvida que sabem prestar cuidados de excelência, providos de humanismo. Por isso sei o que lhes vai na alma, o desalento e desespero nos olhares ao ver tudo o que é retratado. A impotência e a frustração de querer e não poder, de estar a dar o máximo e isso ficar a léguas das necessidades imediatas dos doentes.
Há uns tempos atrás, uma pessoa a quem tenho muita consideração, referia que a falta de tempo é uma desculpa. Contestei, como é óbvio, refutando tal ideia. Gostava de saber a opinião dessa pessoa agora, ao ver estas imagens…porque acredito que são o espelho da realidade portuguesa e não apenas uma exceção, num país que pensa ter cuidados de saúde de primeira qualidade. Não falta só tempo…faltam pessoas, faltam meios, faltam estruturas, falta vontade de quem manda (http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/leal-da-cunha/servicos-de-urgencia-em-portugal-funcionam-muito-bem - nem sei se rio ou choro ao ler isto).
Estas condições são tortura para quem nelas trabalha. Porque acabar o turno, despir a farda, ir para casa e desconectar, só acontece quando sabemos que tudo ficou bem feito, que se fez tudo o que se podia e devia.
É triste e revoltante quando não se faz tudo o que se podia, mesmo fazendo tudo o que (humanamente) é possível fazer!

Repito uma ideia que sempre defendi…somos pessoas que cuidam de pessoas e para cuidar com humanismo temos que ser tratados com humanismo.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Propostas irrecusáveis


Eu já não me admiro com este tipo de propostas, se fosse patrão e tivesse quem me fizesse bem o trabalho por x, não ia oferecer x+y para a mesma função.
Por muito que me possa parecer um “gozar com a nossa cara”, coisa de pessoas indignas e mercantilistas, a verdade é que esses não têm culpa. São gerentes e ponto final. Já os culpei disto, mas nós não somos diferentes (a nível de tratamento) de outras profissões.
A culpa é nossa, nossa enquanto classe, nossa enquanto profissionais individuais, em vender o nosso trabalho por estes valores. Já o escrevi aqui e repito. Enquanto formos na ladainha do “por cada um que não aceite, há 10 que aceitam”, estas propostas, em vez de acabarem, vão proliferar ainda mais.
Que aceitem as propostas, mas que não venham dizer que a profissão está mal, que ganham pouco e coisas assim. Eu já não falo em receber tanto como no público, mas acho que devia de haver valores mínimos e decentes a pagar a pessoas que cuidam de pessoas, a pessoas que põe em causa a sua integridade, física e mental, nesse cuidar.

Já faltou mais para voltarmos ao tempo das freiras, ao trabalho voluntário. E apesar de cada vez haver menos freiras, não tenho a menor dúvida que haverá sempre “alguma” por aí a fazê-lo. Só que agora, não pelo bem do próximo, mas tendo em vista ganhar umas horas de experiência para o currículo…ou assim o esperam.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O lado negro dos “doentes”

Refiro muitas vezes aqui as coisas boas e engraçadas que os meus doentes me proporcionam diariamente. É parte do que me faz adorar o que faço.
Porém, apesar de generalizar ao reconhecer nos doentes pessoas fragilizadas e agradecidas, a verdade é que existe um outro lado. Um lado de má educação, de ameaças verbais e físicas, de autênticos casos de polícia, que nos fazem a nós, profissionais de saúde, ter de lidar com situações com as quais não teríamos de lidar. Situações essas que alteram completamente o nosso processo de trabalho, que desviam a nossa atenção (e energia) para algo secundário (ou nem isso) e que levam a que quem precisa mesmo dos nossos cuidados fique sem eles atempadamente.
Ainda me disseram há dias “O cliente tem sempre razão!” Que razão poderá ter alguém que nos trata abaixo de cão ou que nos aponta uma faca, muitas vezes porque não cedemos a caprichos e outras porque apenas cumprimos as normas de serviço? Sim, que todos os doentes têm direitos, mas na folha onde eles estão têm ao lado algo que diz “deveres”. Ao contrário da nossa (na opinião dessas pessoas), que parece ter escrito “deveres”, mas tem ausência de direitos.
E do que vejo, a maior parte destas pessoas são aquelas que menos precisam dos nossos cuidados. Mas cujas necessidades creem estar acima de tudo e todos.
E estes comportamentos, dignos de denúncia na polícia (se na rua também o são, numa instituição não serão mais?), alteram não só a dinâmica de serviço como também o nosso estado anímico. Porque ninguém gosta de ir trabalhar sabendo que já o espera algo desagradável. Por saber que em cada situação de ameaça física há um risco enorme de ter o meu emprego em causa, simplesmente por não saber o ponto até onde me posso conter. Nem eu nem nenhum colega meu o podemos garantir. Porque defender-me de uma agressão é um direito, seja onde for. Mas sei que se o faço, quem vai passar um mau bocado sou eu.
Claro que depois saltam para as notícias as falsas notícias, como a da suposta senhora com cancro que foi dormir para as escadas da igreja, porque a tinham mandado embora do hospital (foi alta voluntária). E os maus somos nós. Os que fazemos de tudo para essas pessoas não terem problemas com a justiça, que calamos muitas vezes, que escondemos as marcas físicas e psicológicas, baseados na falsa ideologia do “São doentes!”. Mas não o são.

Repito, o que é crime fora dum hospital, também o é dentro dele.

domingo, 11 de janeiro de 2015

A inteligência e o humor


Muito se tem discutido sobre os limites que se deve impor aos humoristas na sua sátira e crítica social, após o cobarde acontecimento de França.
Considero-me uma pessoa com sentido de humor apurado, mas acho que pessoas como os cartoonistas, cujo trabalho vemos diariamente, estão num patamar de genialidade. Só como exemplo, quando leio um dos três diários desportivos, a primeira coisa que faço é ir ver o cartoon da última página (ok, excepto no Ojogo!), independentemente da tendência clubística de cada jornal.
Para mim, só os génios conseguem, numa pequena imagem, colocar e criticar socialmente temas deveras complexos. E depois, cabe ao leitor, ter inteligência ou não para encaixar o “gozo”.
E aqui reside o grande problema da grande maioria, senão mesmo de toda a gente. O dito “gozo” é sempre altamente quando toca falar dos outros, quando toca a falar de nós (ou dos nossos gostos ou crenças), o humorista passa de bestial a besta! Sabem o fácil que é ver “o mal” nas coisas, quando realmente o queremos ver? Mesmo que seja um elogio!
Apraz-me ver a enorme onda de solidariedade, mas amedronta-me ver pessoas dizer “eles tiveram o que pediram!” ou “estivessem calados e não lhes acontecia nada!”. Se chegarmos ao ponde de um dia andarmos na rua ofende certas pessoas, deixámos simplesmente de sair à rua, porque senão estamos a fazer os possíveis para levar um balázio na testa!
Não vou entrar aqui no tema liberdade de expressão (cada um terá a sua opinião), só espero que, aqueles que tanto apelam ao controlo do uso dela, se lembrem do que andam agora a dizer no dia em que contarem anedotas de alentejanos ou de loiras, no dia em que gozarem com o clube rival ou no dia em que chamarem nomes aos políticos! Ou quando contarem aquelas anedotas de “Estava um Inglês, um francês e um português…” em que os nossos revelam sempre uma astúcia elevada em relação aos mentecaptos dos estrangeiros (pena a realidade dizer o contrário).
Ouvi dizer que o caso de França foi demasiado extrapolado, quando ainda há pouco houve um atentado em África que vitimou mais gente, mas que por serem pretos não interessavam. Não tem muito sentido dizer isto. O caso foi mediático, porque foi um atentado macabro efectuado no coração da Europa civilizada, onde as pessoas pensam viver longe deste tipo de perigos.
Acho piada também ao facto de um europeu que vá para um país árabe tem que se adaptar às leis e cultura desse país e eles vêm para aqui e são reis e senhores! Ok, daqui a pouco vão dizer que sou racista ou xenófobo ou que não respeito outras culturas. Eu respeito, não posso é aceitar que coisas que são crime na minha cultura e que lá não são, como parece que é o anda a fazer muita gente. “São muçulmanos, deixem-nos estar, casem as vezes que quiserem, com menores e idade, batam nas mulheres etc!”
A lei tem que ser cumprida, seja ateu, cristão, muçulmano ou shaolin! Assim como o humor não pode discriminar…seja pretos, paneleiros, brancos, heteros, loiras, alentejanos, muçulmanos, cristãos. No dia em que se fizer humor com condicionantes em relação a qualquer um dos itens que referi, será o dia em que o humor será discriminatório.

Por exemplo, no dia em que o humor deixe de dizer “preto” ou “paneleiro” com medo de ofender as pessoas de raça negra e os homossexuais, será o dia em que o humor se tornará racista e homófobo!

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Modelo biopsicossocial, ser ou não ser…

Terça-feira, volto à escola (universidade) para assistir a uma mesa redonda, a convite duma das pessoas que mais consideração me merece naquele espaço.
Dois interlocutores, duas abordagens interessantíssimas e pertinentes dum problema (ou será mais realidade? Ou as duas?) que assola, a meu ver, não só os enfermeiros, mas todos os profissionais de saúde…e não só.
Abordaram-se duas situações distintas, mas que orientaram a sessão para a mesma questão, a carência na assistência a nível social e cultural dos profissionais de saúde aos pacientes, quer sejam estrangeiros ou não.
Para mim este é um problema que tem como base dois modelos, o modelo biomédico e o modelo biopsicossocial, ou melhor, a passagem de um para o outro.
Antes de iniciar a expor a minha visão sobre o assunto, gostaria de reiterar a minha firme oposição à eterna pseudo-guerra médicos/enfermeiros. Olho para eles como colegas de trabalho e se algum deles não me olha da mesma maneira, não é algo que me preocupa e se algum dia tiver problemas com um deles, resolvo-o na hora e com a pessoa em causa, e não faço disso uma bandeira pró-enfermagem. E a questão que vou abordar não me parece que seja um problema deles seguirem um modelo e nós outro, mas sim do modelo que, a meu ver, o sistema de saúde português (e não só) segue, levando de arrasto os seus profissionais.
A nível da formação, a mim já me foi ensinado o modelo biopsicossocial (há uns 12 anos) e segundo me foi dito, neste momento medicina envereda pelo mesmo caminho. Serve isto para mudar o paradigma dominante? Para se passar definitivamente do modelo instaurado há décadas, para o modelo mais recente e que é consensual no que toca a abranger as necessidades totais do paciente?
Não, não chega. Porque não chega brandir aos sete ventos que vemos o doente de uma maneira holística e os outros não (nós é que somos bons!), numa atitude um pouco arrogante da nossa parte. Como não vai chegar daqui a uns tempos os médicos dizerem o mesmo. Mais que ver o doente de uma maneira holística, devemos tratá-lo e cuidá-lo nesse sentido.
Também podemos dizer que temos essas vertentes em atenção nos cuidados que prestámos, mas só sabemos se aplicámos essa visão biopsicossocial realmente quando nos deparámos com situações que nos obrigam a mudar o nosso processo (a palavra rotina dá muito prurido a certas pessoas) de trabalho. Até lá, é fácil dizer que usámos este modelo. Quando os nossos pacientes respondem a um padrão de cultura, que além de ser similar entre eles, é idêntico ao nosso. Quando fogem a esse padrão, aí a coisa complica. Nem nós, nem em último caso os serviços, estão preparados para atender de uma maneira holística todos os doentes. E por muito que nos custe admitir ou não o queiramos ver, é fácil arranjar múltiplos casos em que isso não acontece. Basta olharmos para o nosso terreno e sermos honestos connosco.
Agora é preciso um olhar mais profundo para se determinarem as causas deste fracasso.
A pergunta que eu faço é: Estão reunidas as condições para passarmos a um modelo que, além de abarcar tudo o que o outro tinha, exige ainda mais (conhecimento, concentração, dedicação, tempo etc.) aos profissionais de saúde?
Aceito, compreendo e defendo o papel das universidades…ensinarem a utopia, a perfeição, que devemos exigir a nós mesmos, e exigi-las aos alunos. Pois as mudanças, na minha opinião, começam sempre nas escolas.
Compreendo que digam que “não há tempo” ou que “não há recursos humanos suficientes” são desculpas para se enveredar por um caminho de facilitismo. Compreendo, mas não aceito, pois acho que são visões pouco realistas e holísticas do trabalho de um enfermeiro (ou profissional de saúde). É preciso ter em conta todo o contexto social do doente, certo? E o contexto social e profissional de quem cuida dos doentes? Não somos nós também pessoas?
Aceito perfeitamente a crítica à perda da identidade do paciente, por exemplo, com expressões do tipo “doente da cama x”, mas esta perda não acontece apenas na enfermagem. Em qualquer balcão somos números à espera de ser atendidos e passamos anos na universidade a sermos rostos sem nomes para muitos dos professores, só como exemplos.
Voltando à questão que coloquei, acho que temos sistemas que eles próprios impedem a mudança de paradigma. Seja pela situação socioeconómica que atravessámos (que está a afetar gravemente o SNS), seja pelas chefias e as suas exigências ou até mesmo pelas próprias exigências dos doentes, e até direi por parte de alguns profissionais de saúde. Mas eu sou testemunha que a falta de tempo não é uma desculpa e tem uma causa…falta matéria humana, faltam mais olhos, mais ouvidos e mais mãos para podermos ver (ouvir e tocar) os doentes de uma forma verdadeiramente holística!

Não é desculpa, não é facilitismo, não é não querer…é isso sim, querer e não poder!