quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Armas de fogo, o mito da (falsa) segurança

Recentemente, num almoço com uma daquelas pessoas que dá gosto conversar e “discutir” temas e ideias, veio à baila o tema de posse de armas de fogo. O dilema entre os cidadãos poderem e deverem andar armados, sempre escudados no lema “defender os meus”, ou de não poderem. Atenção, falamos de cidadãos normais, que não pretendem uma arma para andar aí a roubar nem a intimidar quem quer que seja.
Eu consigo entender quem diz que se sente mais seguro armado. Quer dizer, entendo que ele pense isso porque ainda não pensou dois segundos sobre o assunto.
Imaginemos uma discussão na rua, tipo no trânsito e avaliemos várias hipóteses. Estão os dois armados. Qual a probabilidade de a coisa dar para o torto? A rondar os 100% diria eu. Está um armado e o outro não. A probabilidade diminui, ainda mais se o que está sem arma não se armar em valentão (atenção, não digo que seja justo). Terceiro cenário, nenhum está armado. Quanto muito envolvem-se ao murro e ao pontapé e sofrem uns arranhões.
Com um exemplo tão simples, começamos logo a descortinar alguma coisa.
Depois toda a gente que quer e pensa ser capaz de ser portador de uma arma, parte do pressuposto mais errado que pode haver. Que é uma pessoa controlada e que nunca vai usar a arma sem ser em legítima defesa. E o que entendemos aqui como legítima defesa? No caso que dei antes, se discuto com alguém, em vez de andarmos à pancada dou-lhe um tiro. Pronto, foi em legítima defesa, certo? Quem é que pode assegurar que tendo uma arma não o faria? Há uma discussão sobre um caminho. Eu acho que o vizinho está a invadir a minha propriedade, dou-lhe um tiro. Foi em legítima defesa da minha propriedade, certo?
Quantas vezes não nos passou já pela cabeça, num determinado momento em relação a certa pessoa isto “Se pudesse dava-lhe um tiro!” Coisa que nunca aconteceu porque não tínhamos tal artefacto à nossa mão…e se tivéssemos?
Depois temos ainda estes casos de crianças que matam crianças sem querer, apesar dos pais garantirem em todos os casos que a arma estava num sítio seguríssimo e que não percebem como tal coisa pôde acontecer.
Para quem acha que tudo se tornaria mais seguro com todos armados, veja-se a selva que são os EUA. Quantos casos de massacres com armas de fogo já vimos pelo televisor? Sim, parece um filme…mas para as famílias que perderam os seus não é. Ainda no outro dia, na manifestação pelo jovem negro que foi morto pela polícia, começa um aos tiros à polícia. Foi alvejado pela polícia e esta ainda é vista como a má da fita.
A meu ver, andar armado pode dar-nos uma falsa sensação de segurança, mas o que faz realmente é expor-nos muito mais ao perigo. Nem que se façam testes psicotécnicos, nada pode garantir que a pessoa mais calma do mundo não comece por aí aos tiros.

Já tivemos um Oeste selvagem, não queiramos voltar atrás no tempo. As armas a quem de direito, às forças da autoridade. Aos cidadãos, armas zero.

domingo, 9 de agosto de 2015

Nós é que sabemos...

Acerca do tema do alerta da PSP para que as pessoas não publiquem fotos de crianças nas redes sociais, reparei com curiosidade, que a notícia foi bastante divulgada através dos leitores dum blogue, cuja autora era contra este alerta da PSP, dizendo que são muitos os meios e pais a partilhar fotos de crianças, que pedófilos já existiam antes das redes sociais e que uma simples saída de casa era um risco. As pessoas só não se aperceberam que, na maioria das vezes, apenas partilharam a notícia e não o pensamento da autora, como era pretendido.
Antes demais, cada um faz o que quer e assume as possíveis consequências dos seus actos. Quer neste caso, quer em qualquer situação do dia-a-dia.

O que acho importante de salientar é que isto é um apelo das forças de segurança. Já sei que, por norma, todos nós achamos que "nós é que sabemos", demonstrando assim todo o nosso direito de reflectirmos e contrariarmos todas as recomendações profissionais, seja da policia, do médico ou enfermeiro, do psicólogo, do professor etc. Eles são profissionais, lidam com situações quem nem sequer nos passam pela cabeça, mas pronto, nós é que sabemos.
Se a PSP faz este alerta, não acredito que seja só porque sim, mas por toda a experiência que têm com estes casos...que, sendo assim, devem ser reais!
Não critico quem põe fotos, apenas acho que deve haver uma séria reflexão sobre o tema e não se deve relevar um alerta destes. Os outros fazerem, para mim nunca foi uma justificação para eu fazer igual. 
A questão aqui não é o de escondermos os filhos em casa, porque riscos sempre houve...agora há mais. E há mais porque nós os potenciamos. Não precisamos de os esconder, mas também não temos dos expor.
Somos todos muito atentos aos filhos, mas a verdade é que seguem a entrar nos hospitais miúdos com queimaduras, "rachados"etc...coisas que às tantas acontecem quando os pais estão a publicar as fotos no face! Coisas que acontecem por muito avisados e atentos que estejamos.
smile emoticCoisas que acontecem a qualquer um, apesar de todos estarmos mais do que avisados e super atentos.
O problema aqui, na maioria dos casos, é o nosso ego. O sabermos que uma foto com uma criança vai ter mais atenção, likes, comentários elogiosos etc. Ou se não for por isso, pelo simples facto de estarmos a mostrar (no caso dos pais) o nosso rebento, que diga-se de passagem, é o mais lindo do mundo! Não o digo que o façam conscientemente com este propósito, mas inconscientemente é isso que os leva a fazer isto. Só assim concebo que uma geração de pais super protectores consiga minimizar um alerta deste género. Mas é apenas a minhas opinião.
E termino então com a pergunta:
Que interesse tem a criança (e vantagens) em ver a sua foto publicada numa rede social?